terça-feira, 25 de maio de 2010

Orações de Cura entre Gerações

Pe. Robert DeGrandis

Ore antes das orações:- Armadura do Cristão: (Efésios 6, 10-20)- Magnificat: (Lucas 1, 46-55)- Oração da Confiança: (Salmo 90)


Oração:

Nascido para ser livre

Senhor, muito obrigado por vossa presença comigo hoje. Sei que me amais e que me chamaste pelo nome. Vieste para libertar os cativos. Muito obrigado por vosso amor e misericórdia, que constantemente me transferem da servidão para a vossa vida abundante. Eu vos louvo, bendigo e adoro. Coloco-me sob a vossa proteção, Senhor, e cubro-me com vosso Preciosíssimo Sangue e peço aos anjos, os santos e a Bem-aventurada Mãe que intercedem por mim. “É ele que te livrará do laço do caçador e da peste perniciosa; Ele te cobrirá com suas plumas, e sob suas asas encontrarás refúgio” (Sl 90, 3-4).

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Mesmo que você me tenha ferido



Senhor, entro em profundo perdão para limpar-me de todas as raízes de amargura e ressentimento. Focalizo agora minha oração na pessoa que, na semana que passou, foi a maior fonte de aborrecimento. Eu a perdôo do fundo do meu coração. Peço a vossa benção para ela. Absolvo de toda a culpa todas as pessoas que me feriram durante o mês que passou. Jesus, porque vos amo, digo-lhes: “Mesmo que me tenham ferido, não vou feri-las. Entrego-as a Jesus. Perdôo vocês, aceito-as e as amo como vocês são” . Por um ato de vontade, perdôo aqueles que me feriram desde o começo deste ano. Jesus, abençoai-os.“Nunca guardem queixas contra outros, ou se irritem, ou levantem suas vozes contra ninguém, nem xinguem ninguém, ou permitam qualquer tipo de ressentimento. Sejam amigos uns dos outros, e bons, perdoando uns aos outros tão prontamente como Deus os perdoou em Cristo” (Ef 4, 31-32).


Pela pessoa que mais me feriu


Senhor, agora peço pela pessoa que mais me feriu na vida – aquela que continua sendo uma fonte de dor. Ergo-a a vós, para que receba a vossa benção.“Suportem-se uns aos outros; perdoem-se uns aos outros logo que surja uma disputa” (Cl 3, 13).
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Eu me perdôo a mim mesmo


Senhor Jesus, peço a graça de verdadeiramente perdoar-me pelo meu maior pecado, minha maior quebra em meu relacionamento de fé convosco. Perdôo-me por isto, Senhor: Vós me tendes perdoado, e Recebo de Vós, agora, a graça de verdadeiramente perdoar-me.“E que a Paz de Cristo reine em vossos corações” (Cl 3,15ª).

Peço perdão por Eles, Senhor


Senhor, venho diante de vós em favor de todos os de minha linha de família que não estejam perfeitamente unidos a vós. Peço perdão pelo pecado deles. Junto minha oração à de Daniel, quando ele intercede por seu povo e diz: “Ah, Senhor Deus, grande e temível, que sois fiel à aliança e conservais vossa misericórdia para aqueles que vos amam e guardam vossos mandamentos. Pecamos, prevaricamos, cometemos maldade, fomos recalcitrantes, desviamo-nos de vossos mandamentos e de vossas leis” (9,4-6).

“Ó, Senhor, para a nossa vergonha... porque pecamos contra vós. Mas a vós, Senhor nosso Deus, as misericórdias e o perdão” (vv. 8-9). Ouvi, pois, Senhor, a prece suplicante de vosso servo. Por amor a vós mesmo, Senhor faça irradiar a vossa face sobre vosso santuário deserto. Ó meu Deus, ficai atento para ouvir-nos; abri os olhos para ver nossa ruína... Não é em nome de nossos atos de justiça que depositamos a vossos pés as nossas súplicas, mas em nome da vossa misericórdia. Senhor escute! Senhor perdoe! Senhor fique atento! Agi! Por vosso próprio Amor, ó meu Deus, não demoreis, pois vosso nome foi dado... “Ao vosso povo” (vv.17-19).“Perseverai em vossas orações...” (Cl 4,2).

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Jesus é o Senhor


Senhor estou diante de vós e confesso que meus antepassados podem ter-se envolvido com o ocultismo – espiritismo, macumba, candomblé, feitiçaria e todas as formas de obter informação de fontes proibidas. Senhor perdoe. No nome de Jesus, e no poder do Espírito Santo, assumo e uso a autoridade que me deste como Cristão cheio do Espírito Santo. Com essa autoridade, eu agora quebro o poder do mal sobre meus antepassados. Quebro todas as maldições e malefícios, encantos, desejos malignos, maus desejos vudu, magia negra, e selos hereditários, conhecidos e desconhecidos. Venho contra todos os votos satânicos, pactos, servidões espirituais e laços com forças satânicas, e corto a transmissão desses laços através de minha linha de família. Venho contra o efeito de todas as ligações com ocultistas, clarividentes, astrólogos, médiuns, cartomantes e quiromantes. Renuncio a toda participação em sessões e adivinhações, e atividades com cartas de tarô, mesas de ouija, brincadeira do copo, astrologia e jogos de ocultismo de qualquer tipo Renuncio a todas as formas que Satanás possa ter influência sobre mim.
Quebro a transmissão de todas as obras de satânicas passadas através de minha linha de família. Senhor, por favor, remova de todos os meus antepassados todos os efeitos de envolvimento com o ocultismo. Qualquer território entregue a satanás por meus antepassados, agora retomo e coloco sob o Senhorio de Jesus Cristo. Senhor, por favor, faça surgir em minha linhagem homens e mulheres santos e piedosos, profundamente comprometidos com a vossa verdade. “Mas Deus o elevou e deu-lhe um nome que está acima de todo nome, para que todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua proclame que Jesus Cristo é Senhor; para a Glória de Deus Pai” (Fl 2, 9-11).

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Tocai, Curai, Restaurai


Peço, agora, que as águas do meu batismo fluam para trás, através das gerações passadas, através de todas as raízes da minha arvore genealógica. Que o Sangue de Jesus, purificador e vivificante, flua através de todas as gerações – primeira, segunda, terceira, quarta e quinta e todas as mais. Que o Sangue de Jesus flua da Cruz através de todos os filhos e seus pais, até a décima - segunda geração, tocando, curando e restaurando. Agora coloco a Cruz de Jesus Cristo entre mim e cada geração de minha linha de família, e quebro a transferência de todas as forças destruidoras da vida que operam contra mim, ou através de mim. “... pois este é meu sangue, o sangue da aliança, que será derramado por muitos para a remissão dos pecados”(Mt 26, 28)
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Cura no Casamento


No nome de Jesus Cristo, venho contra todos os padrões de infelicidades matrimoniais profundamente inseridos em minha linha de família. Digo “não” a toda supressão de cônjuge e todas as expressões de desamor conjugal. Faço cessar todo o ódio, desejos de morte, maus desejos e intenções nos relacionamentos conjugais. Ponho um fim a toda transmissão de violência, todo comportamento vingativo, negativo, toda infidelidade e engano. Detenho toda transmissão codificada que bloqueie relacionamentos duráveis. Renuncio a todos os padrões de tensão familiar, divórcio e endurecimento de coração no nome de Jesus. Ponho um fim a todos os padrões entranhados se sentir-se preso na armadilha de um casamento infeliz, e todos os sentimentos de vazio e fracasso. Pai, perdoai meus parentes por todos os modos pelos quais têm desonrado o sacramento do matrimônio. Por favor, fazei surgir em minha linha de família muitos casamentos profundamente comprometidos, cheios de amor, fidelidade, lealdade e bondade. “... Amor que nenhuma torrente pode extinguir nenhum rio submergir” (Ct 8, 7)
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Cura das crianças


Senhor, agora dissolvo todos os padrões de as crianças serem feridas, em minha linha de família. Venho contra todos os modos de ferir – abortos, nascimentos antes do tempo, gravidezes não desejadas, crianças não queridas e nascimentos não concebidos fora do casamento. Renuncio a todos os padrões de desvalorização da vida. Rejeito todos os hábitos de espancamento físico ou emocional, abandono e abuso de crianças. Eu digo “basta!” a todos os padrões de nascimento difíceis e gravidezes anormais. Senhor, peço vosso perdão por todas as maneiras pelas quais meu antepassados fizeram mal as crianças. Peço-vos Senhor Jesus, que intervenhais pessoalmente - para curar as feridas e deter a perpetuação deste padrão maligno. Pai faça surgir, em minha linha de família pessoas que reverenciem e amem suas crianças, e as eduquem de maneira a vos honrar. Que as futuras crianças em minha família saibam o que significa ser profundamente amado. “Deixem em Paz as criancinhas, e não as impeçam de vir a mim; pois é para os que se lhes assemelham que pertence o reino do céu” (Mt 19, 14).
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Cura Sexual


Venho, novamente, diante de vós Senhor, com os pecados de meus antepassados. Agora ponho um fim a todas as vias, profundamente gravadas, de pecado sexual. Digo “Não” a todas as tendências para exibição indecente, estupro, fornicação, molestamento, incesto e perversão. Renuncio a toda bestialidade, masoquismo, sadismo, ninfomania, luxúria e prostituição em minha linha de família. Detenho toda agressão sexual, desordens sexuais de personalidade, traumas sexuais e comportamento anormal. Ordeno a todo demônio agarrado a esses padrões que se vá em nome de Jesus. Golpeio com a espada do Espírito Santo essa cadeia de males e quebro as ligações. Pai perdoai. Trazei saúde e restauração sexual onde havia enfermidade. Que minha linha de família brilhe com a beleza de uma sexualidade sadia. Senhor, eu vos bendigo, adoro e louvo. Muito obrigado por derramardes vossa luz, vossa plenitude e vossas bênçãos sobre toda essa área de minha árvore genealógica. “O Senhor quer... que cada um de vós saiba usar o corpo que pertence a Ele, de forma Santa e honesta” (I Ts 4,3-5).
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Cura Mental

Com o poder do Sangue de Jesus, eu agora quebro os padrões de doença mental e insanidades codificadas em meus ancestrais. Venho contra todo comportamento anormal, anti-social, paranóia, esquizofrenia, padrões de agressividade e passividade, desordens da personalidade e hábitos nervosos. Venho contra toda inflexibilidade, perfeccionismo, padrões maníaco-depressivos e modos estranhos. Faço parar toda ferida e repressão da masculinidade. Ponho um fim aos padrões genéticos de suprimir e prejudicar a feminilidade. Tranco os Caminhos Ocultos de autodestruição que solaparam minha história familiar. Senhor saturai essas áreas com o vosso perdão e vossa paz. Pai, que a saúde e a integridade mental sejam inscritas no tecido de minha linha de família. Que cada um tenha a mente de Cristo. Que surjam o pensamento claro, o equilíbrio emocional e padrões e sadios de relacionamento. Venho contra todos os profundos e sombrios padrões de opressão emocional e espiritual- incapacidade de brincar se divertir e expressar alegria. Eu vos peço Jesus, que um espírito de riso e de leveza se levante em minha linha de família. Muito obrigado, Senhor Jesus.“Que o vosso comportamento mude, modelado por vossa nova mente” (Rm 12, 2).

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Não há temor no amor

Ponho um fim, agora, a todos os padrões de medo em minha árvore genealógica. Tomo autoridade sobre todo medo de rejeição e fracasso. Digo “não” a todo medo de água, homens, altura, sucesso, fracasso, multidões, mulheres, Deus, morte, de deixar a casa, de espaços fechados, de espaços abertos, de falar em público, de falar em voz alta, de voar e de sofrimento. Senhor que minha família conheça em todas as gerações, que não há medo no amor. Que vosso perfeito amor encha de tal modo a história de minha família, que toda lembrança de medo deixe de existir. Eu vos louvo e vos bendigo. “No amor não há temos, mas o medo é expulso pelo perfeito amor” (I João 4,18).

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Cura de Hábitos Compulsivos

Agora tomo a espada do Espírito e quebro os efeitos de hábitos compulsivos. Ponho fim a todos os padrões viciosos de jogar, comprar, falar, beber e usar drogas. Quebro todos os padrões de acumular e dilapidar recursos e talentos. Venho contra avareza e o furto. Pai, perdoai e libertai minha família da servidão a todo hábito compulsivo, em vossa misericórdia, graça e generosidade.“... Ele me enviou... a proclamar a redenção aos cativos, aos prisioneiros a liberdade...” (Is 61,1-2)

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Cura de todas as doenças

Agora ordeno que todos os padrões de enfermidade física codificados em minha hereditariedade deixem de existir. Tomo a espada do Espírito Santo e corto todos os laços a doenças de qualquer tipo: do coração, do sangue, câncer, desordens digestivas e da alimentação, úlceras e todas as tendências a formar tumores. Venho contra todos os padrões de desordens femininas, de menstruação, de desequilíbrio hormonal, infertilidade e frieza sexual. Quebro os laços com todas as desordens sexuais masculinas, impotência e doenças infecciosas. Venho contra todas as deformidades físicas, problemas de audição, imunodeficiências, doenças raras, olhos fracos, maus dentes e pés chatos. Venho contra todas as enxaquecas, retardamento mental, problemas dos pulmões, artrite, doenças da pele e desordens ósseas. Renuncio a todos os padrões de trauma físico que me atingiram geneticamente. Corto essa conexão. Venho contra a causa radical de todas as desordens físicas e fraquezas inexplicáveis. Senhor liberte-me dos efeitos desses caminhos de doença inseridos em minha linha de família. Detende sua propagação. Pai perdoe todos em minha família por todos os modos, por terem escolhido a doença para evitar a vida; pelas maneiras como tentaram satisfazer necessidades de modo doentio. Que um padrão de “escolher a vida” flua como um rio através de minha linha de sangue. Eu vos louvo Senhor. “... E todos os que o tocaram eram curados” (Mc 6,56).

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Do crime a Cristo


Agora venho contra todo mal cometido por trapaceiros, exploradores, torturadores, chantagistas e extorsionários em minha linha de família. Fecho a porta ao mal cometido por criminosos de qualquer tipo. Toda corrupção e brutalidade em minha linha de família cessem agora, em nome de Jesus. Corto todos os laços da vingança, do comportamento violento e explosivo e todo dano malicioso. “... estamos certamente decididos a buscar o bem em tudo que fazemos...” (Hb 13,18).
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Com amor e não com ódio

Com o poder do Espírito Santo, agora ponho fim a todas as respostas de ódio fundamente enraizadas – ódio dos outros, ódio de si mesmo, ódio de Deus, ódio racial e fanatismo religioso. Pai, perdoai. Que minha linha de família seja povoada de homens e mulheres que amam. Que tragam a vida e sejam doadores de vida, e curadores. “Este é meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).

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Uma morte envolta em amor e ternura


Intercedo, agora, por todas as pessoas na história de minha família que morreram cedo, não amadas, não choradas, sem oração e sem amoroso enterro cristão. Oro por todos os que experimentaram mortes terrificantes, dolorosas e horríveis – mortes por violência, envenenamento, tiros, fogos, explosões, facadas, enforcamento, afogamento, atos de guerra ou mortes por animais. Ergo até vós Senhor, meus antepassados que morreram mortes misteriosas, inexplicáveis, mortes acidentais e mortes por suicídios. Que a transmissão de tendências para mortes anormais e feias agora cesse. Senhor, que vosso amor misericordioso, que perdoa e cura, agora os toque ternamente. E, Senhor, que doravante todos conheçam mortes cheias de amor e de ternura. Que experimentem a transição da vida para a morte num contexto plenamente cristão. Pai, que ninguém, em minha linha de família, de agora em diante, morra sem ter conhecido pessoalmente o Senhor Jesus Cristo.“Eu sou a ressurreição. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá, e quem vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,26)
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Senhor fazei de nós uma família


Faço parar agora, todos os padrões de rompimento em minha linha de sangue. Tomo autoridade sobre todos os caminhos de separação de família e religião. Bloqueio todos fugitivos – crianças, adultos e pais. Venho contra toda fuga para casar, para entrar em seitas. Dissolvo todas as raízes de isolar-se, esconder-se e fugir. Pai envolva minha árvore genealógica com vosso coração amoroso e perdoador. Codificai em minha hereditariedade um padrão de relacionamento em comunidade sadia. Que se reúnam. Que sejamos pessoas abertas e capazes de relacionar-nos com intimidade e amor.“Como é bom e agradável todos viverem junto como irmãos” (Sl 133,1).

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Justiça e misericórdia


Agora venho contra todos os padrões de injustiça em minha linha de família. Selo todos os canais genéticos de privação, escravidão, falso aprisionamento, supressão de todo tipo, pobreza e crime, no Sangue de Jesus. Venho contra todo padrão de injustiça política e social e social. Renuncio a todos os padrões de rejeição social e racial. Corto todos os laços com a brutalidade e expulsão de pessoas. Venho contra os padrões de desamparo e desabrigo. Levanto-me contra os padrões de sofrimento de condições adversas, climas ásperos e frios severos. Corto os padrões de fome e abandono, traição e vergonha pública. Pai envie o óleo de vosso Santo Espírito a esses padrões de minha linha de família e curai toda lembrança de dor. Pai perdoe todas as pessoas que lhes fizeram mal. Que todos os de meu sangue conheçam padrões de justiça, e sadias condições de vida; comida suficiente; dinheiro suficiente; calor e abrigo.“Isto é o que o Senhor pede de vós, somente isto: agi com justiça, amai com bondade e caminhai humildemente com vosso Deus” (Mq 6,8).

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Servir a um só Deus


Levanto-me, agora, contra as idolatrias das gerações. Corto os elos que me prendem a padrões de idolatria de parentes de sangue de eras passadas. Venho contra ídolos de casas, jóias, modos de transportes, alimento, bebida, títulos, aparência, poder, pessoas, dinheiro, terras, animais e posses de qualquer tipo. Pai perdoe. Faço uma santa escolha por minha árvore genealógica, de que serviremos apenas um Deus: vós, o Deus vivo.“... escolhei hoje quem quereis servir...Quanto a mim e minha casa, serviremos ao Senhor” (Js 24,15).
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A dor de ser diferente


Renuncio a todos os efeitos de ser diferentes, escritos em minha herança. Tomo autoridade contra todos os efeitos de diferentes cores dos olhos, tamanho, cabelo, jeito do corpo e talentos. Corto a transmissão de sofrimentos pela língua diferente, cultura, raça, cor da pele, problemas da pele, por sentir-se feio e ter pais diferentes. Bloqueio o caminho da dor transmitida por defeitos congênitos visíveis, deformidades e retardamentos. Pai, as respostas a estas e outras diferenças podem ter sido passadas através dos corredores de minha árvore genealógica. Por favor, detende essa transferência, Senhor, e perdoai aqueles que causaram a dor. Enviai vosso amor que suba por esse mesmo corredor para tocar, curar e restaurar. Muito obrigado, Jesus.“Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso pelas vossas obras tão maravilhosas” (Sl 138, 13-14).

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Cura da Língua

Agora falo contra todas as desordens de comunicação – incapacidade de comunicar, medo de falar alto, defeitos da fala e especialmente gagueira.Muito obrigado, Senhor, por curvar vosso povo. Venho contra todos os padrões de ferir os outros verbalmente, toda blasfêmia, toda traição pela língua. Pai perdoe. Que minha linhagem surja com pessoas que comunicam cura e restauração. Muito obrigado, Senhor.“... o dia inteiro minha língua estará exaltando vossa justiça” (Sl 70,24).

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Machado na raiz


Venho, agora, contra todos os padrões de sofrimento sem fim, inclusive a necessidade de sofrer e de fracassar. Quebro todos os caminhos do sofrimento por sentir inútil, desprezível e incurável. Venho contra todos os padrões repetidos de corações partidos, sentimentos de desenraizamento e de não pertencer. Venho contra todas as rotas de desespero, desestima trauma emocional e paralisia. Digo “não” a todos os padrões de rejeição, amargura, ressentimento e falta de perdão. Renuncio a todos os caminhos do mal, negatividade e desamor em meus antepassados, no nome de Jesus Cristo.Senhor, trazei agora, à mente, todo padrão enraizado que ides curar – todo padrão de vergonha, dor ou sofrimento. Revelai os específicos padrões ancestrais dos quais estais dizendo: “Chegou o tempo da libertação”.“... e agora o machado está sobre as raízes das árvores” (Lc 3,9).
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Senhor, eu vos peço agora, numa soberana varredura de vosso Espírito, que envieis o perdão ao passado, através de toda minha linha de família. Muito obrigado, Senhor, por tocar, Curar e restaurar. Em nome de Jesus, vos peço. Amém.

Repouso no espírito e Renovamento espiritual

No Renovamento Carismático encontram-se várias manifestações do poder do Espírito Santo, que de início espantaram grandemente, mas que são agora mais facilmente admitidas como autênticas; é assim com o dom das línguas, das curas, a Efusão do Espírito, a imposição das mãos.

Mas há um fenômeno sobrenatural menos conhecido, que se torna cada vez mais frequente no Renovamento Carismático: é o repouso no Espírito. Depois de um estudo atento sobressai, sem equívoco possível, que esta experiência encontra o seu fundamento na teologia.

Com efeito, o repouso no Espírito reveste-se das características do arrebatamento (que é uma espécie de êxtase) salvo na sua causa imediata, que é o pedido feito a Deus, numa oração apropriada.

Convém lembrar que se encontra uma situação semelhante no Batismo do Espírito. Com efeito, este favor espiritual era normalmente concedido àqueles que faziam progressos notáveis na vida espiritual, enquanto que agora é recebido até pelos pecadores, por vezes de um modo instantâneo, na sequência de uma oração feita por outros para esse fim. É assim, também, para o repouso no Espírito. Outrora, apenas se encontrava (pelo menos na maior parte das vezes) nas pessoas avançadas na vida espiritual; pelo contrário, nos nossos dias, a oração ao Espírito Santo obtêm-no até para os pecadores.

Como é um arrebatamento, o repouso no Espírito é da mesma família da ordem extática, mas não arrasta consigo a santificação da pessoa nalguns instantes. Esta experiência mística é destinada a favorecer uma vida cristã mais fervorosa ou uma conversão do coração.

Habitualmente, o arrebatamento verifica-se em pessoas avançadas na vida espiritual, ou, como dizia Santa Teresa d'Ávila, que atingiram as sextas moradas do castelo interior. Não se chega, portanto, de um pulo, ao período do êxtase ou do arrebatamento; em geral este é precedido de uma série de etapas de contemplação infusa, das quais a menos elevada é chamada por Santa Teresa d'Ávila "oração de contemplação".

Lembremo-nos de que há três graus no êxtase:
1) O êxtase simples, quando este se produz lentamente, ou se não é muito forte;
2) O deslumbramento, quando o êxtase é súbito e violento;
3) O vôo do espírito, quando, como diz Santa Teresa d'Ávila, "age de tal maneira que o espírito parece verdadeiramente sair do corpo".

Ora, as características do deslumbramento encontram-se no repouso no Espírito salvo, evidentemente, o grau avançado de vida espiritual. Com efeito, acontece que Deus concede uma tal experiência espiritual a pessoas de virtude vulgar, ou a principiantes na vida espiritual, a fim de os atrair a Si.

O repouso no Espírito resulta, mais frequentemente, da imposição das mãos, ou pelo menos de um toque da mão na cabeça, embora esse gesto não seja sempre necessário. A pessoa começa a vacilar, para finalmente cair devagarinho para trás. Esta queda é causada por uma graça tão poderosa do Espírito Santo que o corpo já não pode suportá-la e, então, as suas forças abandonam-no. Contudo, é preciso esclarecer que a queda não é obrigatória e não condiciona, necessariamente, a recepção da graça. Por outro lado, aqueles que não "caem" são afetados por uma vertigem não desagradável, tremuras ou pernas debilitadas, mas estas manifestações físicas são impregnadas de doçura e de paz. A sensação interior de repouso no Espírito parece existir também nas pessoas que não caem.

Repouso no Espírito e Missão Divina

O repouso no Espírito supõe uma nova efusão do Espírito Santo ou, mais precisamente, como se chama em teologia, uma nova missão deste Espírito Divino. Lembremos que as Missões Divinas, quer dizer, o envio das Pessoas do Filho e do Espírito Santo, podem ser visíveis ou invisíveis. Estas últimas constituem as principais modalidades da ação santificadora da Trindade Santa nas nossas almas.

Quanto ao repouso no Espírito, não é uma nova vinda da Pessoa do Espírito Santo, já recebida no Batismo; pelo contrário, consiste numa nova efusão das suas graças e das suas manifestações. Esta nova efusão do Espírito Santo realiza, então, uma renovação real da relação da pessoa com o Espírito Santo que já a habita e uma experiência de Deus mais íntima, que se abre num conhecimento amoroso mais ardente.

O repouso no Espírito é, portanto, o efeito de uma missão divina, porque comporta o progresso na vida espiritual e porque constitui um novo estado de graça santificante.

Repouso e Batismo no Espírito

O repouso no Espírito resulta, portanto, de uma nova efusão do Espírito Santo, mas de um gênero diferente da que o Batismo no Espírito provoca. Com efeito, a experiência espiritual do repouso no Espírito parece realizar-se, sobretudo, ao nível da inteligência. Pelo contrário, o Batismo no Espírito verifica-se, em especial, ao nível da afetividade.

O repouso no Espírito desenvolve consideravelmente a acuidade intelectual, no sentido em que a atenção é mais levada para a experiência atual da intimidade divina. A consciência é amplificada, mas é desviada das realidades exteriores e é mais centrada na realidade sobrenatural. Por outro lado, os limites pessoais podem, também, tornar-se mais manifestos. Há, portanto, um engrandecimento da lucidez interior sobre Deus e sobre si próprio.

O repouso no Espírito é um arrebatamento que interrompe o conhecimento que se pode adquirir por si próprio. O Espírito Santo não faz, portanto, um vazio na inteligência, mas suspende temporariamente a sua atividade, fixando-a em Deus. É isto que se chama, em teologia mística, a "ligação das faculdades".

Tudo o que a alma conhece pelas suas próprias forças não é nada, em comparação com os conhecimentos abundantes e rápidos que lhe são comunicados durante os arrebatamentos. O repouso no Espírito é frequentemente acompanhado de luzes especiais e novas, que se dirigem para Deus, para o Cristo, para a sua misericórdia, para o valor da vida cristã, para os pecados, para os defeitos, os insucessos, etc. Estas luzes não acontecem sempre explicitamente durante o repouso no Espírito, mas a sua compreensão desenvolve-se ao longo das horas ou dos dias que se seguem à experiência.

Durante os arrebatamentos e, portanto, durante o repouso no Espírito, Deus revela segredos de ordem sobrenatural; habitualmente, sente-se que a inteligência cresce, que há um aumento das faculdades superiores. Acodem ao espírito Idéias profundas, mas é impossível explicá-las com detalhe e com precisão. Isto advêm do fato, não de que a inteligência estivesse como que adormecida, mas de que foi elevada a verdades que ultrapassam a capacidade do espírito humano.

Enquanto a inteligência conhece uma dilatação prodigiosa, a atividade da imaginação está suspensa durante os períodos culminantes. Quanto mais a luz é forte, mais a alma se sente encandeada, cega. Por outro lado, se ficarmos somente pelas aparências, o repouso no Espírito pode apresentar algumas semelhanças com os estados parapsicológicos, como os estados hipnóticos, histéricos, mediúnicos, magnéticos, letárgicos, cataléticos... Contudo, a semelhança é apenas exterior; apresenta-se somente nos fenômenos corporais, que têm relativamente pouca importância no repouso no Espírito. Quanto à sugestibilidade, pode, por vezes, contribuir para provocar o repouso no Espírito; contudo, não se deve exagerar a sua importância. De qualquer maneira, é impossível que a sugestão, por si própria, possa provocar uma reação tão violenta e tão súbita como o repouso no Espírito.

Repouso no Espírito e incapacidade corporal

O repouso no Espírito traduz-se, habitualmente, por uma incapacidade corporal. A pessoa começa por vacilar, para finalmente cair suavemente para trás; a energia física desvanece-se. A pessoa está como que ofuscada pela intensidade da presença interior do Espírito Santo. Há, então, incapacidade de adaptar o psiquismo e os sentidos, a uma experiência espiritual tão intensa.

Em termos técnicos, pode dizer-se que, no decurso do repouso no Espírito, só o "Pneuma" se liberta para se "aquecer" no seio do Pai, enquanto que a "psique" está como que ligada desde que se deu a "invasão" do corpo pelo Espírito Santo. Enquanto a pessoa "repousa" no chão, parece estar num meio-sono, banhada numa grande paz. Terá, por vezes, a impressão de estar como num outro mundo, ou ainda, como do lado de fora do seu corpo. Saboreia uma grande alegria interior, um amor de Deus muito intenso, a que se junta por vezes uma cura física ou interior, ou opera-se uma conversão profunda. O repouso no Espírito dá, frequentemente, forças novas ao corpo e ao espírito, tal como o sono natural regenera as forças corporais. O repouso no Espírito é uma inibição reparadora.

Quanto à duração, vai de alguns segundos até algumas horas. Quanto mais tempo dura, mais a influência divina é susceptível de ser profunda. A maior parte das pessoas deseja não ser incomodada, a fim de saborear esta presença invulgar de Deus.

Como recebê-lo

De uma maneira geral, pode dizer-se que uma pessoa que está habitualmente aberta às inspirações do Espírito Santo, esteja ou não avançada na vida espiritual, está mais disposta ao repouso no Espírito. Pode notar-se, contudo, uma diferença: é que a pessoa avançada continuará tranquila e sossegada, enquanto que a outra estará sujeita à emoção.

Se o repouso no Espírito não se produz, a pessoa poderá, até mesmo, ser santa e habituada à influência do Espírito. De qualquer maneira, é preciso evitar fazer um julgamento geral sobre as pessoas que recebem o repouso no Espírito e as que não recebem. Mas, em poucas palavras, pode dizer-se que apenas não se recebe o repouso no Espírito porque se resiste, recusando-o, ou então porque se está habituado à ação do Espírito em si próprio.

Por outro lado, o repouso no Espírito sobrevém, a maior parte das vezes, na oração. Pode tratar-se de um grupo de pessoas, mais ou menos considerável, reunido para uma oração comum, seja litúrgica, seja carismática; mas uma ocasião muito favorável é a celebração eucarística, especialmente depois da santa comunhão. Quanto mais a atmosfera está impregnada de oração, mais o repouso no Espírito se manifesta, por vezes mesmo sem as que as pessoas sejam tocadas por outras. A oração de louvor é uma causa particularmente eficaz do repouso no Espírito. Este repouso também se produz, muitas vezes, a seguir a um ministério de pregação, confinante a orações de cura. Convém assegurar um clima tranquilo na assembléia e evitar a exaltação da assistência e toda a procura de espetáculo.

Pe. O. Melançon, C.S.C.

A existência do Diabo

Audiência do Papa Paulo VI do dia 15 de novembro de 1972 ´ Alocução “Livrai-nos do mal”

Publicado no L’Osservatore Romano, ed. port. em 24/11/1972. .

“Atualmente, quais são as maiores necessidades da Igreja? .

Não deveis considerar a nossa resposta simplista, ou até supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa daquele mal, a que chamamos Demônio. Antes de esclarecermos o nosso pensamento, convidamos o vosso a abrir-se à luz da fé sobre a visão da vida humana, visão que, deste observatório, se alarga imensamente e pene¬tra em singulares profundidades. E, para dizer a verdade, o quadro que somos convidados a contemplar com realismo global é muito lindo. É o quadro da criação, a obra de Deus, que o próprio Deus, como espelho exterior da sua sabedoria e do Seu poder, admirou na sua beleza substancial (cf. Gn 1,10 ss.). Além disso, é muito interessante o quadro da história dramática da humanidade, da qual emerge a da redenção, a de Cristo, da nossa salvação, com os seus magníficos tesou¬ros de revelação, de profecia, de santidade, de vida elevada a nível sobrenatural, de promessas eternas (cf. Ef 1,10). Se soubermos contemplar este quadro, não poderemos deixar de ficar encantados (Santo Agostinho, Solilóquios); tudo tem um sentido, tudo tem um fim, tudo tem uma ordem e tudo deixa entrever uma Presença-Transcendência, um Pensamento, uma Vida e, finalmente, um Amor, de tal modo que o universo, por aquilo que é e por aquilo que não é, se apresenta como uma preparação en-tusiasmante e inebriante para alguma coisa ainda mais bela e mais perfeita (cf. I Cor 2,9; Rm 8,19´23). A visão cristã do cosmo e da vida é, portanto, triunfalmente otimista; e esta visão justifica a nossa alegria e o nosso reconhecimento pela vida, motivo por que, celebrando a glória de Deus, canta¬mos a nossa felicidade. .

Ensinamento Bíblico .

Esta visão, porém, é completa, é exata? Não nos impor¬tamos, porventura com as deficiências que se encontram no mundo, com o comportamento anormal das coisas em rela¬ção à nossa existência, com a dor, com a morte, com a mal¬dade, com a crueldade, com o pecado, numa palavra, com o mal? E não vemos quanto mal existe no mundo especialmen¬te quanto à moral, ou seja, contra o homem e, simultanea¬mente, embora de modo diverso, contra Deus? Não consti¬tui isto um triste espetáculo, um mistério inexplicável? E não somos nós, exatamente nós, cultores do Verbo, os cantores do Bem, nós crentes, os mais sensíveis, os mais perturbados, perante a observação e a prática do mal? Encontramo-lo no reino da natureza, onde muitas das suas manifestações, se¬gundo nos parece, denunciam a desordem. Depois, encon¬tramo-lo no âmbito humano, onde se manifestam a fraqueza, a fragilidade, a dor, a morte, e ainda coisas piores; observa-se uma dupla lei contrastante, que, por um lado, quereria o bem, e, por outro, se inclina para o mal, tormento este que São Paulo põe em humilde evidência para demonstrar a necessidade e a felicidade de uma graça salvadora, ou seja, da salvação trazida por Cristo (Rm 7); já o poeta pagão Ovidio tinha denunciado este conflito interior no próprio cora¬ção do homem: “Video meliora proboque, deteriora sequor”(Ovídio Met.7, 19). Encontramos o pecado, perversão da liberdade humana e causa profunda da morte, porque é um afastamento de Deus, fonte da vida (cf. Rm 5,12) e, também, a ocasião e o efeito de uma intervenção, em nós e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimigo, o Demônio. O mal já não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa e medonha. Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos e eclesiásticos quem se recusa a reconhecer a existência desta realidade; ou melhor, quem faz dela um princípio em si mesmo, como se não tivesse, como todas as criaturas, origem em Deus, ou a explica como uma pseudo-realidade, como uma personi¬ficação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças. O problema do mal, visto na sua complexidade em rela¬ção à nossa racionalidade, torna-se uma obsessão. Constituí a maior dificuldade para a nossa compreensão religiosa do cosmo. Foi por isso que Santo Agostinho penou durante vários anos: “Quaerebam unde malum, et non erat exitus”, pro¬curava de onde vinha o mal e não encontrava a explicação. (Confissões, VII,5 ss) Vejamos, então, a importância que adquire a advertência do mal para a nossa justa concepção; é o próprio Cristo quem nos faz sentir esta importância. Primeiro, no desenvol¬vimento da história, haverá quem não recorde a página, tão densa de significado, da tríplice tentação? E ainda, em mui¬tos episódios evangélicos, nos quais o Demônio se encontra com o Senhor e aparece nos seus ensinamentos (cf. Mt 1,43)? E como não haveríamos de recordar que Jesus Cristo, referindo-se três vezes ao Demônio como seu adversário, o qualifica como “príncipe deste mundo” (Jo 12,31; 14,30; 16,11)? E a ameaça desta nociva presença é indicada em muitas passagens do Novo Testamento. São Paulo chama-lhe “deus deste mundo” (2Cor 4,4) e previne-nos contra as lutas ocultas, que nós cristãos devemos travar não só com o Demônio, mas com a sua tremenda pluralidade: “Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às cila¬das do Demônio. Porque nós não temos de lutar (só) contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os Espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 6,11´12). Diversas passagens do Evangelho dizem-nos que não se trata de um só demônio, mas de muitos (cf. Lc 11,21; Mc 5,9), um dos quais é o principal: Satanás, que significa o adversário, o inimigo; e, ao lado dele, estão muitos outros, todos criaturas de Deus, mas decaídas, porque rebeldes e condenadas; constituem um mundo misterioso transformado por um drama muito infeliz, do qual conhecemos pouco (cf. DS 800). .

O Inimigo Oculto

Conhecemos, todavia, muitas coisas deste mundo diabó¬lico, que dizem respeito à nossa vida e a toda a história humana. O Demônio é a origem da primeira desgraça da huma-nidade; foi o tentador pérfido e fatal do primeiro pecado, o pecado original (cf. Gn 3; Sb 1,24). Com aquela falta de Adão, o Demônio adquiriu um certo poder sobre o homem, do qual só a redenção de Cristo nos pode libertar. Trata-se de uma história que ainda hoje existe: recorde¬mos os exorcismo do batismo e as freqüentes referências da Sagrada Escritura e da Liturgia ao agressivo e opressivo “domínio das trevas” (Lc 22,53). Ele é o inimigo número um, o tentador por excelência. Sabemos, portanto, que este ser mesquinho, perturbador, existe realmente e que ainda atua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história humana. Deve-se recordar a significativa parábola evangélica do trigo e da cizânia, síntese e explicação do ilogismo que pare¬ce presidir às nossas contrastantes vicissitudes: “Inimicus homo hoc fecit” (Mt 13,2). É o assassino desde o princípio... e “pai da mentira”, como o define Cristo (cf. Jo,44´45); é o insidiador sofista do equilíbrio moral do homem. Ele é o pér¬fido e astuto encantador, que sabe insinuar-se em nós atra¬vés dos sentidos, da fantasia, da concupiscência, da lógica utópica, ou de desordenados contatos sociais na realização de nossa obra, para introduzir neles desvios, tão nocivos quanto, na aparência, conformes às nossas estruturas físicas ou psíquicas, ou às nossas profundas aspirações instintivas. Este capítulo, relativo ao Demônio e ao influxo que ele pode exercer sobre cada pessoa, assim como sobre comuni¬dades, sobre inteiras sociedades, ou sobre acontecimentos, é um capitulo muito importante da doutrina católica, que deve ser estudado novamente, dado que hoje o é pouco. Algumas pessoas julgam encontrar nos estudos da psicaná¬lise ou da psiquiatria, ou em práticas evangélicas, no princi¬pio da sua vida pública, de espiritismo, hoje tão difundidas em alguns países, uma compensação suficiente. Receia-se cair em velhas teorias maniqueístas, ou em divagações fan¬tásticas e supersticiosas. Hoje, algumas pessoas preferem mostrar-se fortes, livres de preconceitos, assumir ares de po-sitivistas, mas depois dão crédito a muitas superstições de magia ou populares, ou pior, abrem a própria alma ´ a própria alma batizada, visitada tantas vezes pela presença eu¬carística e habitada pelo Espírito Santo ´ às experiências licenciosas dos sentidos, às experiências deletérias dos estupefacientes, assim como às seduções ideológicas dos erros na moda, fendas estas por onde o maligno pode facilmente penetrar e alterar a mentalidade humana. Não quer dizer que todo o pecado seja devido diretamente à ação diabólica; mas também é verdade que aquele que não vigia, com certo rigor moral, a si mesmo (cf. Mt 12,45; Ef 6,11), se expõe ao influxo do “mysterium iniquita¬tis”, ao qual São Paulo se refere (2Ts 2,3´12) e que torna pro¬blemática a alternativa da nossa salvação. A nossa doutrina torna-se incerta, obscurecida como está pelas próprias trevas que circundam o Demônio. Mas a nossa curiosidade, excitada pela certeza da sua doutrina múltipla, torna-se legitima com duas perguntas: Há sinais da presença da ação diabólica e quais são eles? Quais são os meios de defesa contra um perigo tão traiçoeiro?

A Ação do Demônio .

A resposta à primeira pergunta, requer muito cuidado embora os sinais do Maligno às vezes pareçam tornar-se evi¬dentes (Tertuliano, Apologia, 23). Podemos admitir a sua atuação sinistra onde a nega¬ção de Deus se torna radical, sutil ou absurda; onde o engano se revela hipócrita, contra a evidência da verdade; onde o amor é anulado por um egoísmo frio e cruel; onde o nome de Cristo é empregado com ódio consciente e rebel¬de (cf. I Cor 16,22; 12,3); onde o espírito do Evangelho é fal¬sificado e desmentido; onde o desespero se manifesta como a última palavra, etc. Mas é um diagnóstico demasiado amplo e difícil, que agora não ousamos aprofundar nem autenticar; que não é desprovido de dramático interesse para todos, e ao qual até a literatura moderna dedicou páginas famosas (*). O problema do mal continua a ser um dos maiores e perma-nentes problemas para o espírito humano, até depois da res¬posta vitoriosa que Jesus Cristo dá a respeito dele. “Sabemos - escreve o evangelista São João - que todo aquele que foi gerado por Deus guarda-o, e o Maligno não o toca” (I Jo 5,19). .

A Defesa do Cristão .

A outra pergunta, que defesa, que remédio, há para com¬bater a ação do Demônio, a resposta é mais fácil de ser for¬mulada, embora seja difícil pô-la em prática. Poderemos di¬zer que tudo aquilo que nos defende do pecado nos protege, por isso mesmo, contra o inimigo invisível. A graça é a defesa decisiva. A inocência assume um aspecto de fortaleza. E, depois, todos devem recordar o que a pedagogia apostóli¬ca simbolizou na armadura de um soldado, ou seja, as virtu¬des que podem tornar o cristão invulnerável (cf. Rm 13,13; Ef 6,11´14´17; l Tes 5,8). O cristão deve ser militante; deve ser vigilante e forte (l Pd 5,8); e algumas vezes, deve recorrer a algum exército ascético especial, para afastar determinadas invasões diabólicas; Jesus ensina-o, indicando o remédio “na oração e no jejum” (Mc 9,29). E o apóstolo indica a linha mestra que se deve seguir: “Não te deixes vencer pelo mal; vence o mal com o bem” (Rm 12,21; Mt 13,29). Conscientes, portanto, das presentes adversidades em que hoje se encontram as almas, a Igreja e o mundo, procurare¬mos dar sentido e eficácia à usual invocação da nossa oração principal: “Pai nosso... livrai-nos do mal”. Contribua para isso a nossa Bênção apostólica.

A Doutrina do Purgatório

Desde os primórdios a Igreja, assistida pelo Espírito Santo (cf. Mt 28,20; Jo 14,15.25; 16,12´13), acredita na purificação das almas após a morte, e chama este estado, não lugar, de Purgatório. Ao nos ensinar sobre esta matéria, diz o nosso Catecismo: “Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a morte, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu” (CIC, §1030). Logo, as almas do Purgatório “estão certas da sua salvação eterna”, e isto lhes dá grande paz e alegria. Falando sobre isso, disse o Papa João Paulo II: “Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, porque sabe que pertence para sempre ao seu Deus.”(Alocução de 03 de julho de 1991; LR n. 27 de 07/7/91)

O Catecismo da Igreja ensina que: .

“A Igreja chama de purgatório esta purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da punição dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório principalmente nos Concílios de Florença (1438´1445) e de Trento (1545´1563)” (§ 1031). “Este ensinamento baseia-se também sobre a prática da oração pelos defuntos de que já fala a Escritura Sagrada: ‘Eis porque Judas Macabeus mandou oferecer este sacrifício expiatório em prol dos mortos, a fim de que fossem purificados de seu pecado’ (2 Mac 12,46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em favor dos mesmos, particularmente o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos”(§1032). Devemos notar que o ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus, cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas: “Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s) Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé. Todo homem foi criado para participar da felicidade plena de Deus (cf. CIC, §1), e gozar de sua visão face a face. Mas, como Deus é “Três vezes Santo”, como disse o Papa Paulo VI, e como viu o profeta Isaías (Is 6,8), não pode entrar em comunhão perfeita com Ele quem ainda tem resquícios de pecado na alma. A Carta aos Hebreus diz que: “sem a santidade ninguém pode ver a Deus” (Heb 12, 14). Então, a misericórdia de Deus dá-nos a oportunidade de purificação mesmo após a morte. Entenda, então, que o Purgatório, longe de ser castigo de Deus, é graça da sua misericórdia paterna. O ser humano carrega consigo uma certa desordem interior, que deveria extirpar nesta vida; mas quando não consegue, isto leva-o a cair novamente nas mesmas faltas. Ao confessar recebemos o perdão dos pecados; mas, infelizmente, para a maioria, a contrição ainda encontra resistência em seu íntimo, de modo que a desordem, a verdadeira raiz do pecado, não é totalmente extirpada. No purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, e a alma chega à santidade perfeita, podendo entrar na comunhão plena com Deus, pois, com amor intenso a Ele, rejeita todo pecado. Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos. O fogo neste texto tem sentido metafórico e representa o juízo de Deus (cf. Sl 78, 5; 88, 47; 96,3). O purgatório não é de fogo terreno, já que a alma, sendo espiritual, não pode ser atingida por esse fogo. No purgatório a alma vê com toda clareza a sua vida tíbia na terra, o seu amor insuficiente a Deus, e rejeita agora toda a incoerência a esse amor, vencendo assim as paixões que neste mundo se opuseram à vontade santa de Deus. Neste estado, a alma se arrepende até o extremo de suas negligências durante esta vida; e o amor a Deus extingue nela os afetos desregrados, de modo que ela se purifica. Desta forma, a alma sofre por ter sido negligente, e por atrasar assim, por culpa própria, o seu encontro definitivo com Deus. É um sofrimento nobre e espontâneo, inspirado pelo amor de Deus e horror ao pecado.

Pensamentos Consoladores sobre o Purgatório

O grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567-1655), tem um ensinamento maravilhoso sobre o purgatório. Ele ensinava já na idade média, que “é preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório”. Eis o que ele nos diz:

1 - As almas ali vivem uma contínua união com Deus. .

2 - Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar-se no inferno a apresentar-se manchadas diante de Deus.

3 - Purificam-se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus.

4 - Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele. .

5 - São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição. .

6 - Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.

7 - São consoladas pelos anjos. .

8 - Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável. .

9 - As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda. .

10 - Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.

11 - O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor. ( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)

Os "irmãos" de Jesus: Maria teve outros filhos?

OS "IRMÃOS" DE JESUS: MARIA TEVE OUTROS FILHOS?
Por Cláudio Pinto
Fonte: A Barca de Jesus

O objetivo desta matéria é demonstrar que Maria que não teve outros filhos além de Jesus, tendo permanecido virgem, mesmo após o nascimento de Jesus. Para tanto, lancei mão de textos que colecionei de várias fontes, tais como os exuberantes sites do Agnus Dei e do Veritatis Splendor, além de escritos de Dom Estevão Bettencourt, debates na lista de discussão do Veritatis Splendor e algumas observações minhas.

Parte I: Textos que Comprovam que Jesus era Filho Único

1. A Bíblia só chama a Jesus de Filho de Maria

Em nenhuma passagem da Bíblia, ninguém é chamado de "filho de Maria", a não ser Jesus. E, ainda, de ninguém Maria é chamada "Mãe", a não ser de Jesus. Em Mc 6,3 é dito: "o filho de Maria" (com artigo, dando idéia de unicidade). A expressão grega implica que Ele era seu único filho. O Evangelho nunca diz "a mãe de Jesus com seus filhos", embora isso fosse natural, especialmente em Mc 3,31 e At 1,14, se ela tivesse outros filhos.

2. Maria fez Voto de Virgindade

Em Lc 1,34 Maria pergunta: "Como se fará isso, pois eu não conheço varão?".

A pergunta que Maria fez seria inadimissível em uma jovem desposada no momento em que lhe anunciavam o nascimento de um filho futuro. Esta pergunta só tem sentido se considerarmos que ela fizera voto de virgindade, uma vez que, embora estivesse desposada, ela afirma: "eu não conheço varão". O anjo, porém, não a libera do voto, mas diz que se tratará de uma conceição milagrosa.

O voto de virgindade feito por Maria é também insinuado num apócrifo: o Protoevangelho de Tiago (120 dC).

3. Jesus Entregou Maria ao Discípulo João

Era costume judeu que os filhos cuidassem da mãe. Ao morrer o irmão mais velho, caberia aos demais filhos o cuidado da mãe. Porém, Jesus pede que o discípulo João, membro de outra família, cuidasse de sua mãe (Jo 19,26-27). Não haveria necessidade de tal preocupação e tal atitude seria inadmissível se Jesus tivesse outros irmãos.

4. Aos 12 Anos, não há Indícios de Irmãos na Festa da Páscoa

Quando Jesus foi a festa da Páscoa em Jerusalém, com a idade de 12 anos (Lc 2,41-51), não se menciona a existência de outros filhos, embora toda a família tivesse peregrinado junto durante uns 15 dias. Ora, Maria e José não poderiam ter deixado em casa, por tanto tempo, filhos tão pequenos.

5. O Testemunho da Sagrada Tradição

A Sagrada Tradição da Igreja sempre ensinou a Virgindade perpétua da mãe de Nosso Senhor. Eis alguns testemunhos dos primórdios do cristianismo:

Santo Inácio de Antioquia ( Século I ): "E permaneceram ocultos ao príncipe desse mundo a virgindade de Maria e seu parto, bem como a morte do Senhor: três mistérios de clamor, realizados no silêncio de Deus" (Carta aos Efésios, PG. V, 644 ss.)

Santo Irineu (130 a 203 dC): "Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em Cristo, e que Eva fosse restaurada em Maria, a fim de que uma virgem feita advogada de uma virgem, apagasse e abolisse por sua obediência virginal a desobediência de uma virgem". (Contra as Heresias)

Santo Atanásio (295 a 386 dC): "Jesus tomou carne da SEMPRE virgem Maria".

Dídimo (386 dC): "Nada fez Maria, que é honrada e louvada acima de todas as outras: não se relacionou com ninguém, nem jamais foi Mãe de qualquer outro filho; mas, mesmo após o nascimento do seu filho [único], ela permaneceu sempre e para sempre uma virgem imaculada". ("A Trindade 3,4")

São Jerônimo (340-420 dC): "Cristo virgem e Maria virgem consagraram os princípios da virgindade em ambos os sexos".

Santo Agostinho (354 a 430 dC): "Então, o Senhor tem irmãos? Será que Maria teve ainda outros filhos? Não! De modo algum! (...) Qual é, pois, a razão de ser da expressão "irmãos do Senhor"? Irmãos do Senhor eram os parentes de Maria". (Comentário do Evangelho de São João, X, 2)

Santo Agostinho: "Concebeu-O [a Cristo Jesus] sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-lhe à luz, Virgem permaneceu". (Sermão sobre a Ressurreição de Cristo, segundo São Marcos, PL XXXVIII, 1104-1107)

6. A Fé dos Reformadores Protestantes

Martinho Lutero:

Sobre Mt 1,25: "Destas palavras não se pode concluir que após o parto, Maria tenha tido consórcio conjugal. Não se deve crer nem dizer isso." (Obras de Lutero Ed. Weimar, Tomo 11, p.323)

No fim de sua Vida: "Virgem antes, no, e depois do parto, que está grávida e dá a luz. Este artigo da fé é milagre divino." (Sermão Natal 1540: WA 49,182)

João Calvino:

"Jesus é dito primogênito unicamente para que saibamos que Ele nasceu da Virgem" (CO 45,645)

"Certas pessoas têm desejado sugerir desta passagem [Mt 1,25] que a Virgem Maria teve outros filhos além do Filho de Deus, e que José teve relacionamento íntimo com ela depois. Mas que estupidez! O escritor do evangelho não desejava registrar o que poderia acontecer mais tarde; ele simplesmente queria deixar bem clara a obediência de José e também desejava mostrar que José tinha sido bom e verdadeiramente acreditava que Deus enviara seu anjo a Maria. Portanto, ele jamais teve relações com Maria, mas somente compartilhou de sua companhia... Além disso, N.Sr. Jesus Cristo é chamado o primogênito. Isto não é porque teria que haver um segundo ou terceiro [filho], mas porque o escritor do Evangelho está se referindo à precedência. Assim, a Escritura está falando sobre a titularidade do primogênito e não sobre a questão de ter havido qualquer segundo [filho]" (Sermão sobre Mateus, 1562).

Zvínglio:

"Creio firmemente que, segundo o Evangelho, Maria, como Virgem pura, gerou o Filho de Deus e no parto e após o parto permaneceu para sempre Virgem pura e íntegra." (Zvínglio Opera 1,424)

"Os irmãos do Senhor eram os amigos do Senhor" (ZO 1,401)

Parte II: Respondendo às Objeções Protestantes

7. Quem Seriam os "Irmãos" de Jesus?

Há vários textos no NT que mencionam os "irmãos de Jesus": Mt 12,46-50; 13,55; Mc 3,31-35; Lc 8,19-21; Jo 2,12; 7,2-10; At 1,14; Gl 1,19; 1Cor 9,5. Vejamos, por exemplo, Mc 6,3:

"Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?"

O que dizer?

A expressão "irmãos de Jesus" foi concebida, não em ambiente grego, mas no mundo semita, onde a língua falada era o aramaico. Ora, em aramaico (e também em hebraico), a palavra "irmãos" (se escreve "ah"), designa não somente os filhos dos mesmos pais, mas também, os primos ou até parentes mais remotos. No AT há 20 passagens que atestam o amplo significado da palavra "irmão". Vejamos alguns exemplos:

Primeiro Exemplo:

Gn 11,27: "Taré gerou Abrão, Nacor e Arã. Arã gerou Ló."

Logo, Ló é sobrinho de Abrão, como confirma Gn 12,5: "Abrão tomou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, ...". Vejamos agora o que diz Gn 13,8:

"Abrão disse a Ló: Que não haja discórdia entre mim e ti, ... , pois somos IRMÃOS."

Segundo Exemplo:

1Cr 23,21-23: "Os filhos de Merari foram Moholo e Musi. Os filhos de Moholi foram Eleázaro e Cis. Eleázaro morreu sem ter filhos, mas apenas filhas. Os filhos de Cis, SEUS IRMÃOS, as tomaram por mulheres."

Ora, como Eleázaro e Cis eram verdadeiros irmãos, então os filhos de Cis não eram irmãos das filhas de Eleázaro, mas sim primos. No entanto, a Bíblia utiliza o conceito amplo da palavra "ah" para chamá-los de irmãos, embora fossem primos.

Terceiro Exemplo:

Gn 29,15: "Então Labão disse a Jacó: Por seres meu IRMÃO, irás servir-me de graça?"

Seria Labão irmão de Jacó? Não! Era seu tio. Confira:

Gn 29,10: "Logo que Jacó viu Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, aproximou-se..."

Leia também: 1Cr 15,4-10.

Em conclusão, o uso dos termos "irmãos e irmãs" de Jesus, na verdade, designam simplesmente que se trata de parentes de Jesus, pois o termo hebraico "ah" (traduzido por "irmão") possui este sentido amplo. Portanto, não eram filhos de Maria, mas sim parentes de Jesus, provavelmente seus primos ou filhos do viúvo José.

8. Mas o NT foi Escrito em Grego e não em Aramaico. E aí?

Em grego existem palavras definidas para irmão (ADELPHOS) e primo (ANEPSIOS). Paulo conhecia muito bem o grego pois chegou a discursar com muita eloquência num aerópago grego. Certamente, os autores sagrados conheciam muito bem as palavras ADELPHOS e ANEPSIOS. Inclusive, Paulo chegou a usar o termo ANEPSIOS (primo) em Cl 4,10:

"Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o PRIMO de Barnabé"

E ainda: "Saudai a Herodião, meu PARENTE" (Rm 16,11)

O mesmo se pode dizer do livro de Tobias, escrito em grego: "Como este jovem é parecido com meu PRIMO" (Tb 7,2)

Portanto, se os "irmão do Senhor" fossem primos de Jesus, ao escrever o NT em grego, os autores sagrados usariam a palavra ANEPSIOS (primo), e não ADELPHOS (irmão). Porém, o NT sempre se refere aos "irmãos do Senhor" usando o termo ADELPHOS (irmão) e nunca ANEPSIOS (primo).

O que dizer?

Ocorre que os escritores sagrados quiseram preservar o sabor semítico da palavra aramaica "ah" ("irmão" para qualquer grau de parentesco próximo) ao fazer a tradução para o grego. A expressão semita "irmãos do Senhor" já era muito usual entre os cristãos (como demonstra as várias inserções no NT) e os apóstolos quiseram preservá-la, pois "ah" é diretamente traduzido para o grego por "ADELPHOS". Um contexto, portanto, bem diferente das passagens de Paulo e Tobias acima citadas, pois nestes casos Paulo e Tobias não estavam traduzindo um termo hebraico para o grego. Esta preservação do aramaico ou do sabor semita na tradução para o grego ocorre também em outras passagens do NT. Vejamos algumas:

- Pedro, em algumas passagens é chamado pelo nome CEFAS (pedra em aramaico), preservando assim o sabor semita com que os discípulos se acostumaram a chamar Pedro.

- Lc 14,26: "Se alguém vem a mim e não ODEIA seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs, sim, até a própria vida, não pode ser meu discípulos"

Teria Jesus pregado o odio? Óbvio que não! Ocorre que o aramaico não tem estruturas de comparação, tipo "amar mais" ou "amar menos". Jesus, portanto, usou o vocábulo aramaico que traz a idéia de "amar menos" (ou seja, o mesmo que é traduzido por "odiar"), e que foi traduzido para o grego mantendo o sabor semita. Lucas podia usar a estrutura grega correspondente a "amar menos", mas tal como no caso dos "irmãos do Senhor", optou por manter o sabor semita do ensinamento, embora houvesse no grego termos mais apropriados.

- São Paulo cita Ml 1,2-3: "Eu amei Jacó e ODIEI Esaú" (Rm 9,13).

Obviamente, a tradução correta seria: "Eu amei mais a Jacó do que a Esaú". Porém, Paulo mantêm o semitismo, embora o grego em que escreveu lhe proporcionasse termos mais adequados.

- Em várias passagens, São Paulo frequentemente faz uso do termo grego "dikaiosyne" não na forma estrita utilizada pelo sentido grego, mas na forma ampla do sentido hebraico de "sedaqah".

- Lucas utiliza com frequencia o aditivo "kai" ("e", em português), que reflete o aditivo hebraico "wau". Ex: Lc 5,1 "... E ele se encontrava de pé ...". A palavra "e" poderia existir no hebraico, mas não no grego, nem mesmo no aramaico. Lucas nos diz que tomou grande cuidado, conversou com testemunhas oculares e checou relatos escritos sobre Jesus. Estes relatos escritos poderiam estar em grego, hebraico ou aramaico. Estas estranhas estruturas usada por Lucas em alguns pontos parece demonstrar que ele usou, em certos momentos, documentos hebraicos e os traduziu com extremo cuidado, tão extremo a ponto de manter a estrutura hebraica no texto grego. Lucas sabia como escrever em grego culto, como demonstra certas passagens. Mas por que escreveu assim? Certamente por causa de seu extremo cuidado, para ser fiel aos textos originais que usava.

Há muitos outros lugares no NT onde devemos considerar o fundamento hebraico para obter o sentido correto do grego. Demos apenas alguns exemplos que são suficientes para mostrar como os escritores do NT escreveram em grego mantendo o sabor semita das expressões, embora o grego tivesse estruturas e vocábulos mais apropriados, tais como "primos" em lugar de "irmãos".

Em acréscimo, podemos observar que quando o AT foi traduzido para o grego (versão dos Setenta), alguns séculos antes de Cristo, o termo aramaico "ah" sempre foi traduzido para o grego ADELPHOS (irmão), mesmo quando era evidente que não se tratava de filhos da mesma mãe, mas sim de parentes próximos. Por exemplo, conforme visto acima, em Gn 13,8 "ah" deveria ser traduzido para o grego correspondente a "parentes" (tio e sobrinho), mas preservou-se o sabor semita "irmãos". Portanto, não se deve admirar o fato do hagiógrafo do NT manter o sabor semita do vocábulo "ah" referente aos parentes, pois este também foi o critério usado na tradução do AT, alguns séculos antes de Cristo nascer. O linguajar grego da Versão dos Setenta, que conservava seu fundo semita, influiu profundamente na linguagem dos escritores do NT, familiarizados que estavam com a tradução dos Setenta. E quando se traduz a Bíblia para as línguas modernas, português, inglês, etc., o termo correspondente a "irmão" também é mantido mesmo nos casos onde é evidente que não se tratam de filhos dos mesmos pais, mas sim de parentes.

9. Mas o Profético Salmo 68 Afirma: "os filhos de sua mãe"!

O Salmo 68 é um salmo profético, pois o versículo 10 é aplicado à Jesus pelos discípulos em Jo 2,17: "O zelo pela tua casa me consumiu". Dessa forma, se o versículo 10 foi aplicado a Jesus, muitos sugerem que o versículo 9 também deve ser aplicado, pois está adjacente ao versículo 10. Vejamos o que diz o versículo 9:

"Tornei-me um estranho para meus irmãos, um desconhecido para os filhos de minha mãe."

Observe: "para os filhos de minha mãe"! Daí muitos concluem que Maria teve outros filhos além de Jesus.

O que dizer?

Ocorre, porém, que dado um contexto que contenha um versículo profético, se é verdade que todos os versículos deste contexto sejam todos igualmente proféticos, então o versículo 6 deste Salmo também deveria ser profético e aplicado a Jesus, pois pertence ao mesmo contexto dos versículos 9 e 10. Mas o que diz o versículo 6 ?

"Vós conheceis, ó Deus, a minha insipiência, e minhas faltas não vos são ocultas." (Sl 68,6)

No salmo 68, o sujeito dos versículos 9 e 10 é o mesmo sujeito do versículo 6. Se o versículo 9 deve ser aplicado a Jesus porque o versículo 10 foi, então o versículo 6 também teria que ser, pois pertencem ao mesmo contexto. Mas o versículo 6 é a confissão de um sujeito insipiente e pecador. Porém, o NT nos garante que Jesus jamais cometeu um pecado (Jo 8,46; Hb 4,15; 1Pd 2,22; Is 53,9; 1Jo 3,5). Logo, concluímos que se um versículo do At for aplicável a Jesus (ou a alguém ou a algum fato do NT) não significa que todo os versículos adjacentes a ele (ou todo o contexto onde ele está inserido), também sejam obrigatoriamente proféticos e igualmente aplicáveis. No caso citado, o versículo 10 é aplicado a Jesus, mas os versículos 6 e 9, não.

Em acréscimo, observe o versículo 22 deste mesmo salmo. Ele também é profético e aplicado a Jesus (Mt 27,34; Jo 19,29). Igualmente os versículos 23, 24 e 26 são todos proféticos. Porém, enquanto o 23 e 24 são aplicado a Israel (Rm 11,9s), o versículo 26 é aplicado a Judas (At 1,20). Isto também comprova que os versículos são aplicados a sujeitos distintos sem qualquer vínculo com o contexto onde se encontra. E ainda, neste mesmo contexto, observe como os versículos 25, 28 e 29 destoam profundamente de Lc 23,34. Novamente observamos que não é porque alguns versículos são proféticos e aplicáveis ao NT que todos os versículos adjacentes o devem ser. Portanto, o versículo do Sl 68,9 não garante que Maria tenha tido outros filhos.

Parte III: Ainda Respondendo às Objeções Protestantes

10. A Bíblia diz: "Até que..." (Mt 1,25)

"José não conheceu Maria (= não teve relações com Maria) ATÉ QUE ela desse à luz um filho (Jesus)".

Significa isto que, depois de ter dado à luz a Jesus, Maria teve relações conjugais com José?

Não necessariamente. A expressão "até que" corresponde ao grego "heos hou" e ao hebraico "ad ki". Esta partícula designa apenas o que se deu (ou não se deu) no passado, sem indicação do que havia de acontecer no futuro. Ou seja, a passagem quer afirmar que Jesus nasceu sem que José e Maria tivessem relações. O termo grego "heos hou" ("até que") nada insinua se depois que Jesus nasceu houve ou não relação entre Maria e José, mas simplesmente relata algo que ocorreu no passado, no caso, Mateus quis relatar o fato extraordinário de que Jesus nasceu estando sua mãe virgem. Vejamos diversos casos semelhantes:

2Sm 6,23: "Micol, filha de Saul, não teve filhos ATÉ a morte." Não significa que, após morrer, tenha tido filhos.

Sl 109,1: Deus Pai convida o Messias a sentar-se à sua direita ATÉ QUE Ele faça dos seus inimigos o escabêlo dos seus pés. Isto não significa que, após vencidos os inimigos, o Messias deixará de se assentar à direita do Pai.

Gn 28,15: "Diz o Senhor a Jacó: Não te abandonarei ATÉ QUE eu tenha realizado o que te prometi." Certamente Deus não abandonou Jacó depois de cumprir as suas promessas.

Dt 34,6: Moisés foi enterrado "e ATÉ hoje ninguém sabe onde se encontra sua sepultura". Isto era verdade no dia em que o autor do Deuteronômio relatou o fato; e continua sendo verdade ainda hoje.

1Tm 4,13: O Apóstolo pede para que Timóteo se devote à leitura, exortação e ensinamento "ATÉ eu (Paulo) chegar". Isso não quer dizer que Timóteo deveria parar de fazer tais coisas após a chegada de Paulo.

Mt 13,33: "O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que [heos hou] tudo esteja levedado." Isso não quer dizer que depois que levedou ja não havia mais 3 medidas de farinha.

Mt 26,36: "Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto [heos hou] vou além orar." Observe que Jesus ordena para que os discípulos esperem sentados. Isto não significa que, ao retornar da oração, eles deveriam novamente se levantar. Não! Quando Jesus voltasse, eles poderiam permanecer sentados conversando, ou irem durmir ou se levantarem. Observe como o HEOS HOU nada nos informa sobre o estado futuro.

Lc 24,49: "E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que [heos hou] do alto sejais revestidos de poder." Quer dizer que, após Pentecostes, todos os apóstolos saíram de Jerusalém? De modo algum. Observe como HEOS HOU refere-se apenas ao passado, sem nada indicar sobre o futuro. A ordem de Jesus era para que antes de Pentecostes não saíssem de Jerusalém de modo algum. Depois, pouco lhe importa se permaneceriam ou se sairiam dali.

Alguns protestantes, porém, ainda contra-argumentam afirmando que no período entre 100 AC e 100 DC (época em que o NT foi escrito), a partícula "até que" (HEOS HOU, em grego) não era usada sem fazer referências ao futuro. Este argumento também é falso. Podemos citar, por exemplo, um escrito da época citada que diz:

"E Aseneth foi deixada com as sete virgens, e continuou a ser oprimida e a chorar ATÉ (HEOS HOU) o sol se pôr. E não comeu pão nem bebeu água. E a noite veio, e todos da casa dormiram, e somente ela estava acordada, continuando a se desesperar e a chorar."

Fonte: História "Joseph e Aneseth" de C. Burchard, que pode ser encontrada em Old Testament Pseudepigrapha. Vol. 2, Expansions of the Old Testament and Legends, Wisdom and Philosophical Literature, Prayers, Psalms, and Odes, Fragments of Lost Judeo-Hellenistic Works, ed. James H.Charlesworth, p. 215. New York: Doubleday, 1985.

Notamos pelo contexto que Aneseth chorou até o pôr do sol, mas que ela continuou a chorar pela noite. Eis um caso clássico, da época de Cristo, onde "heos hou" não implica em mudança de ação futura, pois o próprio contexto não dá margem a qualquer outra possibilidade. Portanto, ou "heos hou" termina o ato, ou o continua. Neste exemplo ele certamente não terminou o ato, senão é fato que Aneseth deveria ter parado de chorar, e não continuado, depois que o sol se pôs.

Todos esses exemplos são casos em que se faz referência ao passado, sem referências do futuro. Essa locução era frequente entre os semitas e foi usada em Mt 1,25. A tradução mais clara deste versículo seria "Sem que José tivesse tido relações com Maria, ela deu à luz um filho".

11. Se Jesus era o Primogênito, então foi o Primeiro de outros Filhos

Lc 2,7: "Maria deu à luz o seu filho primogênito"

Literalmente, "primogênito" é o primeiro filho, independente de haver ou não um segundo filho. Em hebrico "bekor" (primogênito) podia designar simplesmente "o bem-amado", pois o primogênito é certamente aquele dos filhos no qual durante certo tempo se concentra todo o amor dos pais. Além disto, os hebreus julgavam o primogênito como alvo de especial amor de Deus, pois devia ser consagrado ao Senhor (Lc 2,22; Ex 13,2; 34,19).

A palavra "primogênito" podia mesmo ser sinônima de "unigênito" (único filho), pois um e outro vocábulos na mentalidade semita designam "o bem-amado". Veja, por exemplo, Zc 12,10:

"Quanto àquele que transpassaram, irão chorá-lo como se chora um filho unigênito; irão chorá-lo amargamente como se chora um primogênito"

Da mesma forma, Maquir que é o único filho de Manassés é chamado de "primogênito" em Jos 17,1. A descendência de Manassés é descrita em Nm 26,29-34.

Observe como "primogênito" refere-se apenas a condição do primeiro filho, sem nada afirmar sobre outros filhos:

Ex 13,2: "Consagra-me todo primogênito, todo o que abre o útero materno entre os filhos de Israel. Homem ou animal será meu."

Ex 34,19: "Todo o que sair por primeiro do seio materno será meu: Todo macho, todo primogênito das tuas ovelhas e do teu gado."

Lc 2,23: "Todo macho que abre o útero será consagrado ao Senhor"

Numa inscrição sepulcral judaica datada de 5 AC e descoberta em Tell-el-Yedouhieh (Egito), em 1922, lê-se que uma jovem chamada Arsinoé MORREU "nas dores do parto do seu filho primogênito". Ora, se ela morreu, então não teve outros filhos além do filho dito "primogênito". E mais ainda: no apócrifo "Antiguidades Bíblicas", a filha de Jefté (Jz 11,29-39) ora é dita primogênita (primeira filha), ora é dita unigênita (única filha). Portanto, embora fosse a única filha, também era chamada de primogênita.

E para confirmar definitivamente que o primogênito não necessariamente têm outros irmãos, São Jerônimo apresenta Lc 2,22-24 que diz:

"Concluídos os dias da sua purificação, de acordo com a lei de Moisés, eles o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor [como está prescrito na lei do Senhor, todo macho que abre o útero deve ser consagrado ao Senhor] e para oferecer em sacrifício de acordo com o que é prescrito na lei do Senhor, um par de rolinhas ou duas pombas novas"

Como não havia tempo suficiente, até o dia da sua purificação, para Maria conceber novamente, é certo que Jesus foi consagrado ao Senhor (lei da primogenitura) antes de ter qualquer irmão. Ora, se o primogênito fosse restrito àqueles que possuem irmãos, ninguém estaria sujeito a lei da primogenitura, enquanto não nascesse seu irmão. Mas visto que, o primeiro filho (que ainda não tem irmãos mais novos), poucos dias depois de nascer já é sujeito à lei da primogênitura, deduzimos que é chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe e que não foi precedido por ninguém, e não aquele cujo nascimento foi seguido por outro de irmão mais novo.

Vimos, portanto, que o primeiro filho homem será consagrado a Deus. Este é o primogênito. Mesmo que não seja o primeiro filho, mas se for o primeiro filho homem, ele é o primogênito. E, se for o único filho, ele também é o primogênito porque foi o primeiro e único. Enfim, o termo "primogênito" possui o mesmo modo de falar de Mt 1,25: "primogênito" vem a ser apenas o filho antes do qual não houve outro, não necessariamente aquele após o qual houve outros.

12. Se Maria fez voto de virgindade, como pode ter desposado José?

Santo Agostinho explica:

"O que tornou a virgindade de Maria tão santa e agradável a Deus não foi porque a concepção de Cristo a preservou, impedindo que sua virgindade fosse violada por um esposo, mas porque antes mesmo de conceber ela já a tinha dedicado a Deus e merecido, assim, ser escolhida, para trazer Cristo ao mundo.

É o que indicam as palavras de Maria em resposta ao anjo que lhe anunciava a maternidade: "Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?" (Lc 1,34). Por certo, ela não teria falado assim, se não houvesse consagrado anteriormente sua virgindade a Deus. Mas como esse voto ainda não tinha entrado nos costumes dos judeus, ela fora dada em casamento a um varão justo o qual, longe de lhe tirar o que ela já havia consagrado a Deus, seria ao contrário o seu fiel guardião. Ainda que ela apenas tivesse dito: "Como é que vai ser isso", sem acrescentar: "se eu não conheço homem algum", não ignorava que, como mulher, não precisaria perguntar como daria à luz esse filho prometido, no caso de estar casada para ter filhos.

Poderia também ter recebido uma ordem do céu de permanecer virgem, a fim de que o Filho de Deus tomasse nela a forma de escravo por algum grande milagre. Mas por estar destinada a servir de modelo às futuras virgens consagradas, era preciso não deixar parecer que unicamente ela deveria ser virgem, ela que merecera conceber fora do leito nupcial.

Assim, consagrou sua virgindade a Deus, enquanto ainda ignorava de quem havia sido chamada a ser mãe. Desse modo, ela ensinava, às outras, a possibilidade de imitação da vida do céu, em um corpo terrestre e mortal, em virtude de um voto e não de um preceito, e realizando-o por opção toda de amor, não por necessidade de obedecer. Cristo, assim, nascendo de uma virgem que, antes mesmo de saber de quem seria mãe, já tinha resolvido permanecer virgem, esse Cristo preferiu aprovar a santa virgindade a impô-la. Dessa maneira, mesmo na mulher da qual haveria de receber a forma de servo, ele quis que a virgindade fosse o efeito da vontade livre." (A Santa Virgindade - Santo Agostinho)

Vejamos, agora, o que nos diz o Papa João Paulo II:

"No momento da anunciação, Maria encontra-se então na situação de noiva. Podemos perguntar-nos porque ela tinha aceito o noivado, dado que havia feito o propósito de permanecer virgem para sempre. (...) Pode-se supor que entre José e Maria, no momento do noivado, houvesse um entendimento sobre o projeto de vida virginal.

De resto, o Espírito Santo, que tinha inspirado Maria à escolha da virgindade em vista do mistério da Encarnação, e queria que esta acontecesse num contexto familiar idôneo ao crescimento do Menino, pôde suscitar também em José o ideal da virgindade." (João Paulo II - Catequese - 17 a 24/08/1996)

Em acréscimo, lembro também que na cultura judaica uma mulher sem marido não era bem vista (veja, por exemplo, 1Cor 7,36). Desposando de José, homem justo, Maria não passaria por tal constrangimento e ainda cumpriria o voto de virgindade. Uma segunda observação, é que quando o Papa fala no ideal de virgindade de José, este ideal pode ter sido suscitado após sua viuvez, uma vez que existem relatos de que José teria tido filhos em seu primeiro casamento.

Deus realmente existe ou é só uma invenção do homem?

Há pessoas que dizem que Deus é uma invenção de alguns homens para conseguir exercer uma influência sobre os demais...

O pensamento de Deus ronda a mente do homem desde tempos imemoriais. Aparece com teimosa insistência em todos os lugares e todos os tempos, até nas civilizações mais arcaicas e isoladas que já se teve conhecimento. Não há nenhum povo nem período da humanidade sem religião. É algo que tem acompanhado o homem desde sempre, como a sombra que segue o corpo.

A existência de Deus se apresenta como a maior das questões filosóficas. E -como diz J.R.Ayllón- não por sua complexidade, mas por apresentar-se ao homem com um caráter radicalmente comprometedor. Como dizia Aristóteles, "Deus não parece ser um simples produto do pensamento humano, nem um inofensivo problema intelectual".
Por mais forte que tenha às vezes sido a influência secularizante ao seu redor, jamais o homem ficou totalmente indiferente frente ao problema religioso. A pergunta sobre o sentido e a origem da vida, sobre o enigma do mal e da morte, sobre o além, são questionamentos que jamais se pôde evitar. Deus está na própria origem da pergunta existencial do homem.

Por isso, desde tempo imemorial, o homem tem se perguntado com assombro qual seria a explicação de toda essa harmonia que há na configuração e nas leis do Universo.
Quando se observa a complexidade e perfeição dos processos bioquímicos no interior de uma diminuta célula, ou dos mais gigantescos fenômenos e movimento e transformação das galáxias; quando se assoma ao mundo micro-físico e se propõe leis que tentam explicar fenômenos que ocorrem em escalas de até um bilionésimo de centímetro; ou quando se aprofunda na estrutura em grande escala do Universo em limites de mais de um bilhão de bilhões de quilômetros; contemplando este grandioso espetáculo, cada dia com mais profundidade graças aos avanços da ciência, fica cada vez mais difícil sustentar que tudo obedece a una evolução misteriosa, governada pelo azar, sem nenhuma inteligência por detrás.

Onde existe um plano, deve haver alguém que o planeja. E atrás de uma obra de tal qualidade e de tais proporções, deve haver um criador, cuja sabedoria transcenda toda medida e cuja potência seja infinita.

Pensar que toda a harmonia do universo e todas as complexas leis da natureza são fruto do azar, seria como pensar que as andanças de Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes, puderam aparecer íntegras tirando-se letras ao azar de um gigantesco prato de sopa de letras. Recorrer a uma gigantesca casualidade para explicar as maravilhas da natureza é uma audácia excessiva.

Pode o mundo ter existido desde sempre?

Quando vemos um livro, um quadro, ou uma casa, imediatamente pensamos que por detrás destas obras haverá, respectivamente, um escritor, um pintor, um arquiteto. E da mesma maneira que não ocorre a ninguém pensar que o Quixote surgiu de uma imensa massa de letras que caiu ao azar sobre o papel e ficou ordenada precisamente dessa maneira tão engenhosa, tampouco ninguém sensato diria que o edifício "está aí desde sempre", nem que esse quadro "foi pintado sozinho", ou coisas do estilo. Não podemos sustentar seriamente que o mundo "se fez sozinho", "foi criado por si mesmo". São incongruências que caem pelo seu próprio peso.

Desta maneira, pressupõe-se a existência de uma "causa primeira", já que do nada, segundo explicava Leo J. Trese, "não se pode obter algo". Se não temos Se nao temos semente, náo podemos plantar um carvalho. Sem pais, não há filhos. Assim, pois, se não existisse um Ser que fosse eterno(quer dizer, um Ser que nunca tenha começado a existir), e onipotente (capaz portanto de criar algo do nada), não existiria o mundo, com toda sua variedade de seres, e nós não existiríamos. Um carvalho procede de uma semente, mas as sementes crescem nos carvalhos. Quem fez a primeira semente ou o primeiro carvalho? Os filhos têm pais, e esses pais são filhos de outros pais, e estes de outros. Pois bem, quem criou os primeiros pais?

Alguns dizem que tudo começou de uma massa informe de átomos; bem, mas quem criou esses átomos? De onde procediam? Quem guiou a evolução desses átomos, segundo leis que podemos descobrir, e que evitaram um desenvolvimento caótico? Alguém teve que faze-lo. Alguém que, desde toda a eternidade, tem gozado de uma existência independente.

Todos os seres deste mundo, houve um tempo em que não existiram. Cada um deles deverá sempre sua existência a outro ser. Todos, tanto os vivos quanto os inertes, são elo de uma longa cadeia de causas e efeitos. Mas essa cadeia deve chegar a uma primeira causa: pretender que um número infinito de causas pudesse nos dispensar de encontra uma causa primeira, seria o mesmo que afirmar que um pincel pode pintar por si mesmo com tanto que tivesse um cabo infinitamente longo.

É possível a auto criação?

O big bang e a auto criação do universo são duas coisas bem diferentes. A teoria do big bang, como tal, é perfeitamente conciliável com a existência de Deus. Entretanto, a teoria da auto criação -que sustenta, mediante explicações mais ou menos engenhosas, que o universo foi criado por si mesmo, e do nada-, deveria objetar duas coisas: primeiro, que desde o momento que falasse de criação partindo do nada, estaríamos já fora do método científico, posto que o nada não existe e portanto não se pode aplicar o método científico; e segundo, que faz falta muita fé para pensar que uma massa de matéria ou de energia possa Ter-se criado a si mesma.
Tanta fé parece fazer falta, que o próprio Jean Rostand -por citar um cientista de reconhecida autoridade mundial nesta matéria e, ao mesmo tempo, pouco suspeitoso de simpatia pela fé católica -, chegou a dizer que a teoria da auto criação é "um conto de fadas para adultos".

Afirmação que André Frossard remarca ironicamente dizendo que "Há que se admitir que existem pessoas adultas que não são mais exigentes que crianças a respeito de contos de fadas" "As partículas originais -continua com sua ironia o pensador francês -, sem impulso nem direção exteriores, começaram a associar-se, a combinar-se aleatoriamente entre elas para passa dos quarks aos átomos, e dos átomos a moléculas de arquitetura cada vez mais complicada e diversa, até produzir depois de milhares de milhões de anos de esforços incessantes, um professor de física com óculos e bigodes. É : não dá mais! das maravilhas. A doutrina da criação não pedia mais do que apenas um milagre de Deus. A da auto criação do mundo exige um milagre a cada décimo de segundo."
A doutrina da auto criação exige um milagre contínuo, universal, e sem autor.

E a teoria da evolução?

Para quem defende esta teoria, parece que o mundo não é mais do que uma questão de geometria extraordinariamente complexa. Entretanto, por muito que se compliquem umas estruturas e por muito que se admita uma vertiginosa evolução em sua complexidade, essa evolução da substância material enfrenta ao menos duas objeções importantes:

1. A evolução jamais explicaria a origem primordial dessa matéria inicial: a evolução transcorre no tempo; a criação é seu pressuposto.

2. Passar da matéria à inteligência humana supõe um salto ontológico que não pode dever-se a uma simples evolução fruto do azar.

A matéria, por mais que se desenvolva, não é capaz de produzir um só pensamento capaz de se compreender a si mesma, assim como nunca se veria -como sugere André Frossard- que um triângulo, depois de um extraordinário processo evolutivo, advertisse, maravilhado, que a soma de seus ângulos internos é igual a cento e oitenta graus.

O Sagrado Magistério da Igreja

“A única Igreja de Cristo é aquela que o nosso Salvador, depois de sua Ressurreição, entregou a Pedro para apascentar e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la... Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele”(Lumen Gentium 8)

Conferindo aos Apóstolos o encargo de dirigir a Igreja em toda a terra, Jesus estabeleceu sobre eles o que chamamos de Sagrado Magistério da Igreja, constituído pelo Papa (sucessor de Pedro) e os bispos (sucessores dos Apóstolos) em comunhão com ele. Sem este Magistério oficial, querido por Jesus, o “depósito da fé” já estaria esfacelado, como aconteceu fora da Igreja Católica (Lc 10,16).
O que garantiu a unidade da Igreja Católica, sua continuidade até hoje, de maneira ininterrupta, conservando intacto o ‘depósito da fé’, que recebeu do Senhor, é a sua apostolicidade; isto é, a sucessão apostólica (At 1,15-17.21-26; 6,1-7).

Ao Colégio dos Doze, Jesus disse: “Em verdade eu vos digo: tudo que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”(Mt 18,18). É com esta autoridade, recebida diretamente de Jesus, que o Colégio episcopal se reúne em concílios e Sínodos para ‘ligar na terra’ o que é para o bem e a salvação dos fiéis. Jesus disse que aquele que se recusa a ouvir a Igreja, “seja para ti como um pagão e um publicano”(Mt 18,17). Aqui Jesus deixou muito claro para os Apóstolos que é a Igreja que tem a palavra final nas decisões das coisas do Reino de Deus.

Para que a transmissão da Boa Nova chegasse então aos confins da terra e dos tempos, os Apóstolos foram preparando os pastores das comunidades, seus sucessores. Assim, estava formado o Magistério da Igreja. Vejamos alguns casos:

São Paulo deixa Timóteo como Bispo de Éfeso: “Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes”(I Tim 1,3). A preocupação de Paulo é com a “sã doutrina”(v.10) que Timóteo deve garantir na comunidade. Esta continua a ser a principal missão do bispo também hoje na Igreja, além de ser para o seu rebanho o pai espiritual e a pedra viva da unidade. “Por esse motivo eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos”(II Tim1,6). Aqui vemos a ordenação de Timóteo pela imposição das mãos de São Paulo. Até hoje a Igreja repete esse gesto na ordenação dos sacerdotes e bispos, e assim garante a sucessão apostólica.

Paulo também escolheu Tito para bispo de Creta: “Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos (sacerdotes) em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei”(Tt 1,5). Essa passagem mostra que os Apóstolos iam definindo as ‘normas’ da Igreja, que foram formando a Sagrada Tradição Apostólica, tão importante e legítima quanto à própria Bíblia.

Nas cartas de Santo Inácio de Antioquia, falecido em 107, já encontramos a organização atual da Igreja. Vemos ali um Bispo residente em cada diocese e respondendo por essa parte do rebanho do Senhor: “Segui ao bispo, vós todos, como Jesus Cristo ao Pai. Segui ao presbítero como aos apóstolos. Respeitai os diáconos como ao preceito de Deus. Ninguém ouse fazer sem o bispo coisa alguma concernente à Igreja. Como válida só se tenha a Eucaristia celebrada sob a presidência do bispo ou de um delegado seu. A comunidade se reúne onde estiver o bispo e onde está Jesus Cristo está a Igreja Católica. Sem a união do bispo não é lícito batizar nem celebrar a Eucaristia; só o que tiver a sua aprovação será do agrado de Deus e assim será firme e seguro o que fizerdes”. Esse testemunho do primeiro século da Igreja mostra bem a sucessão apostólica e a importância do bispo.

Foi para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, que os Apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo de Magistério. Assim, a pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se sem interrupção até a consumação dos tempos (LG 7-8).
“O que Cristo confiou aos apóstolos, estes o transmitiram por sua pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até a volta gloriosa de Cristo”(C.I.C 96).
“Esta missão divina, confiada por Cristo aos Apóstolos deverá durar até o fim dos séculos(Mt 28,20), pois o Evangelho, que eles devem transmitir, é para a Igreja o princípio de toda a sua vida, através dos tempos. Por isso os apóstolos, nesta sociedade hierarquicamente organizada, cuidaram de constituir os seus sucessores. De fato, não só se rodearam de vários colaboradores no ministério, mas, para que a missão a eles confiada tivesse continuidade após a sua morte, os Apóstolos, quase por testamento, incumbiram os seus cooperadores imediatos de terminar e consolidar a obra por eles começada... Constituíram assim os seus sucessores e dispuseram que, por morte destes, fosse confiado o seu ministério a outros homens experimentados”(Lumen Gentium 20)

POR QUE NÃO SOU PROTESTANTE?

Por Dom Estêvão Bettencourt, OSB

São sete as razões principais pelas quais não sou protestante:

1. Somente a Bíblia...

Os protestantes afirmam que seguem a Bíblia como norma de fé. Acontece, porém, que a Bíblia utilizada por todos os protestantes é uma só; em português, vem a ser a tradução de Ferreira de Almeida. Por que então não concordam entre si no tocante a pontos importantes (ver nº 2 adiante)? E por que não constituem uma só comunidade cristã, em vez de serem centenas e centenas de denominações separadas (e até hostis) entre si?

A razão disto é que, além da Bíblia, seguem outra fonte de fé e disciplina... fonte esta que explica as divergências do Protestantismo.
Tal fonte, chamamo-la Tradição oral; é esta que dá vida e atualidade à letra do texto. A tradição oral do Catolicismo começa com Cristo e os Apóstolos, ao passo que as tradições orais dos protestantes começam com Lutero (1517), Calvino (1541), Knox (1567), Wesley (1739), Joseph Smith (1830)...

Entre Cristo e os Apóstolos, de um lado, e os fundadores humanos das denominações protestantes, do outro lado, não há como hesitar: só se pode optar pelos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos, deixando de lado os "profetas" posteriores.
Notemos que o próprio texto da Bíblia recomenda a Tradição oral, ou seja, a Palavra de Deus que não foi consignada na Bíblia e que deve ser respeitada como norma de fé. Os autores sagrados não tiveram, em vista expor todos os ensinamentos de Jesus, como eles mesmos dizem:

"Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se teriam de escrever" (Jo 21,25, cf. 1 Ts 2,15).

"Muitos outros prodígios fez ainda Jesus na presença dos discípulos, os quais não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (Jo 20,30s).

São Paulo, por sua vez, recomenda os ensinamentos que de viva voz nos foram transmitidos por Jesus e passam de geração a geração no seio da Igreja, sem estarem escritos na Bíblia: "Sei em quem acreditei.. Toma por norma as sãs palavras que ouviste de mim na fé e no amor do Cristo Jesus. Guarda o bom depósito com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós" (2Tm 1, 12-14).
Neste texto vê-se que o depósito é a doutrina que São Paulo fez ouvir a Timóteo, e que Paulo, por sua vez, recebeu de Cristo. Tal é a linha pela qual passa o depósito: Cristo -> Paulo -> Timóteo

A linha continua... conforme 2Tm 2,2:

"O que ouviste de mim em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam capazes de o ensinar ainda a outros".
Temos então a seguinte sucessão de portadores e transmissores da Palavra: O Pai -> Cristo -> Paulo (Os Apóstolos) -> Timóteo (Os Discípulos imediatos dos Apóstolos) -> Os Fiéis -> Os outros Fiéis

Desta forma a Escritura mesma atesta a existência de autênticas proposições de Cristo a ser transmitidas por via meramente oral de geração a geração, sem que os cristãos tenham o direito de as menosprezar ou retocar. A Igreja é a guardiã fiel dessa Palavra de Deus oral e escrita.

Dirão: mas tudo o que é humano se deteriora e estraga. Por isto a Igreja deve ter deteriorado e deturpado a palavra de Deus; quem garante que esta ficou intacta através de vinte séculos na Igreja Católica?

Quem o garante é o próprio Cristo, que prometeu sua assistência infalível a Pedro e as luzes do Espírito Santo a todos os seus Apóstolos ou à sua Igreja; ver Mt 16, 16-18; Lc 22,31s; Jo 21,15-17; Jo 14, 26; 16,13-15.

Não teria sentido o sacrifício de Cristo na Cruz se a mensagem pregada por Jesus fosse entregue ao léu ou às opiniões subjetivas dos homens, sem garantia de fidelidade através dos séculos. Jesus não pode ter deixado de instituir o magistério da sua Igreja com garantia de inerrância.

2. Contradições

0 fato de que não seguem somente a Bíblia, explica as contradições do Protestantismo:
Algumas denominações batizam crianças; outras não as batizam;
Algumas observam o domingo; outras, o sábado;
Algumas têm bispos; outras não os têm;
Algumas têm hierarquia; outras entregam o governo da comunidade à própria congregação (congregacionalistas);
Algumas fazem cálculos precisos para definir a data do fim do mundo - o que para elas é essencial. Outras não se preocupam com isto.
Vê-se assim que a Mensagem Bíblica é relida e reinterpretada diversamente pelos diversos fundadores dos ramos protestantes, que desta maneira dão origem a tradições diferentes e decisivas.

Ademais, todos os protestantes dizem que a Bíblia contém 39 livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, baseando-se não na Bíblia mesma (que não define o seu catálogo), mas unicamente na Tradição oral dos judeus de Jâmnia reunidos em Sínodo no ano 100 d.C.;

Todos os protestantes afirmam que tais livros são inspirados por Deus, baseando-se não na Bíblia (que não o diz), mas unicamente na Tradição oral.
Onde está, pois, a coerência dos protestantes?

Pelo seu modo de proceder, afirmam o que negam com os lábios; reconhecem que a Bíblia não basta como fonte de fé. É a Tradição oral que entrega e credencia a Bíblia.

3. Afinal a Bíblia... Sim ou Não?

Há passagens da Bíblia que os fundadores do Protestantismo no século XVI não aceitaram como tais; por isto são desviadas do seu destino original muito evidente:
a. A Eucaristia... Jesus disse claramente: "Isto é o meu corpo" (Mt 26,26) e "Isto é o meu sangue" (Mt 26,28).

Em Jo 6,51 Jesus também afirma: "O pão que eu darei, é a minha carne para o mundo". Aos judeus que zombavam, o Senhor tornou a afirmar: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha came é verdadeiramente uma comida e o meu sangue verdadeíramente uma bebida".

Apesar disto, os protestantes não aceitam o sacramento do perdão e da reconciliação! (Jo 21,17).
Se assim é, por que é que "os seguidores da Bíblia" não aceitam a real presença de Cristo no pão e no vinho consagrados?

b. Jesus disse ao Apóstolo Pedro: "Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta Pedra (Kepha) edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18).
Disse mais a Pedro: "Simão, Simão... eu roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E tu, voltando-te, confirma teus irmãos" (Lc 22,31s).
Ainda a Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,15).
Apesar de tão explícitas palavras de Jesus, os protestantes não reconhecem o primado de Pedro! Por que será?

c. Jesus entregou aos Apóstolos a faculdade de perdoar ou não perdoar os pecados - o que supõe a confissão dos mesmos para que o ministro possa discernir e agir em nome de Jesus:

"Recebei o Espiríto Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem não os perdoardes, não serão perdoados" (Jo 20,22s).

d. Jesus disse que edificaria a sua Igreja ("a minha Igreja", Mt 16,18) sobre Pedro. As denominações protestantes são constituídas sobre Lutero, Calvino, Knox, Wesley... Antes desses fundadores, que são dos séculos XVI e seguintes, não existia o Luteranismo, o Calvinismo (presbiterianismo), o Metodismo, o Mormonismo, o Adventismo... Entre Cristo e estas denominações há um hiato... Somente a Igreja Católica remonta até Cristo.

e. 0 Apóstolo São Paulo, referindo-se ao seu elevado entendimento da mensagem cristã, recomenda a vida una ou indivisa para homens e mulheres: "Dou um conselho como homem que, pela misericórdia do Senhor, é digno de confiança... 0 tempo se fez curto. Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam como se não a tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; aqueles que se regozijam, como se não se regozijassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não usassem plenamente. Pois passa a figura deste mundo. Eu quisera que estivésseis isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido" (1Cor 7,25-34).

Ora os protestantes nunca citam tal texto quando se referem ao celibato e à virgindade consagrada a Deus. É estranho, dado que eles querem em tudo seguir a Bíblia.

4. Esfacelamento

Jesus prometeu à sua Igreja que estaria com ela até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20); prometeu também aos Apóstolos o dom do Espírito Santo para que aprofundassem a mensagem do Evangelho (cf. Jo 14,26; 16,13s).

Não obstante, os protestantes se afastam da Igreja assim assistida por Cristo e pelo Espírito Santo para fundar novas "igrejas". São instituições meramente humanas, que se vão dividindo, subdividindo e esfacelando cada vez mais; empobrecem e pulverizam sempre mais a mensagem do Evangelho, reduzindo-a: Ora a sistema de curas (curandeirismo), milagre serviço ao homem (Casa da Bênção, Igreja Socorrista, Ciência Cristã...);

Ora a um retorno ao Antigo Testamento, com empalidecimento do Novo; assim os ramos adventistas...; Ora a um prelúdio de nova "revelação", que já não é cristã. Tal é o caso dos Mórmons; tal é o caso das Testemunhas de Jeová, que negam a Divindade de Cristo, a SS. Trindade e toda a concepção cristã de história.

5. Deterioração da Bíblia

0 fato de só quererem seguir a Bíblia (que na realidade é inseparável de Tradição oral, que a berçou e a acompanha), tem como consequência o subjetivismo dos intérpretes protestantes. Alguns entram pelos caminhos do racionalismo e vêm a ser os mais ousados dilapidadores ou roedores das Escrituras (tal é o caso de Bultmann, Marxsen, Harnack, Reimarus, Baur...). Outros preferem adotar cegamente o sentido literal, sem o discernimento dos expressionismos próprios dos antigos semitas, o que distorce, de outro modo, a genuína mensagem bíblica.

Isto acontece, porque faltam ao Protestantismo os critérios da Tradição ("o que sempre, em toda a parte e por todos os fiéis foi professado"), critérios estes que o magistério da Igreja, assistido pelo Espírito Santo, propõe aos fiéis e estudiosos, a fim de que não se desviem do reto entendimento do texto sagrado.

6. Mal-Entendidos

Quem lê um folheto protestante dirigido contra as práticas da Igreja Católica (veneração, não adoração das imagens, da Virgem Santíssima, celibato...), lamenta o baixo nível das argumentações: são imprecisas, vagas, ou mesmo tendenciosas; afirmam gratuitamente sem provar as suas acusações; não raro baseiam-se em premissas falsas, datas fictícias, anacronismos.

As dificuldades assim levantadas pelos protestantes dissipam-se desde que se estudem com mais precisão a Bíblia e as antigas tradições do Cristianismo. Vê-se então que as expressões da fé e do culto da Igreja Católica não são senão o desabrochamento homogêneo das virtualidades do Evangelho; sob a ação do Espírito Santo, o grão de mostarda trazido por Cristo à terra tornou-se grande árvore, sem perder a sua identidade (cf. Mt 13,31 s); vida é desdobramento de potencialidades homogêneo. Seria falso querer fazer disso um argumento contra a autenticidade do Catolicismo. Está claro que houve e pode haver aberrações; estas, porém, não são padrão para se julgar a índole própria do Catolicismo.

A dificuldade básica no diálogo entre católicos e protestantes está nos critérios da fé. Donde deve o cristão haurir as proposições da fé: da Bíblia só ou da Bíblia e da Tradição oral?

Se alguém aceita a Bíblia dentro da Tradição oral, que lhe é anterior, a berçou e a acompanha, não tem problema para aceitar tudo que a Palavra de Deus ensina na Igreja Católica, à qual Cristo prometeu sua assistência infalível.
Mas, se o cristão não aceita a Palavra de Deus na sua totalidade oral e escrita, ficando apenas com a escrita (Bíblia), já não tem critérios objetivos para interpretar a Bíblia; cada qual dá à Escritura o sentido que ele julga dever dar, e assim se vai diluindo e pervertendo cada vez mais a Mensagem Revelada. A letra como tal é morta; é a Palavra viva que dá o sentido adequado a um texto escrito.

7. Menosprezo da Igreja

Jesus fundou sua Igreja e a entregou a Pedro e seus sucessores. Sim, Ele disse ao Apóstolo: "Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,18s).

Notemos: Jesus se refere à sua Igreja (Ele só tem uma Igreja) e Ele a entregou a Pedro... A Pedro e a seus sucessores, pois Pedro é o fundamento visível ("sobre essa pedra edificarei..."); ora, se o edifício deve ser para sempre inabalável, o fundamento há de ser para sempre duradouro; esse fundamento sólido não desapareceu com a morte de Pedro, mas se prolonga nos sucessores de Pedro, os Papas.
Ora, Lutero e seus discípulos desprezaram a Igreja fundada por Jesus, e fundaram (como até hoje ainda fundam) suas "igrejas". Em consequência, cada "igreja" protestante é uma sociedade meramente humana, que já não tem a garantia da assistência infalívei de Jesus e do Espírito Santo, porque se separou do tronco original.

A experiência mostra como essas "igrejas" se contradizem e ramificam em virtude de discórdias e interpretações bíblicas pessoais dos seus fundadores; predomina aí o "eu acho" dos homens ou de cada "profeta" de denominação protestante.
Mas... as falhas humanas da Igreja não são empecilho para crer?
Em resposta devemos dizer que o mistério básico do Cristianismo é o da Encarnação; Deus assumiu a natureza humana, deixou-se desfigurar por açoites, escarros e crucificação, mas desta maneira quis salvar os homens. Este mistério se prolonga na Igreja, que São Paulo chama "o Corpo de Cristo" (Cl 1,24; 1Cor 12,27). A Igreja é humana; por isto traz as marcas da fragilidade humana de seus filhos, mas é também divina; é o Cristo prolongado; por isto os erros dos homens da Igreja não conseguem destrui-la; são, antes, o sinal de que é Deus quem vive na Igreja e a sustenta.
Numa palavra, o cristão há de dizer com São Paulo: "A Igreja é minha mãe" (cf. Gl 4,26). Ao que São Cipriano de Cartago (+258) fazia eco, dizendo: "Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe" ("Sobre a Unidade de Igreja", cap. 4).

Conclusão

A grande razão pela qual o Protestantismo se torna inaceitável ao cristão que reflete, é o subjetivismo que o impregna visceralmente. A falta de referenciais objetivos e seguros, garantidos pelo próprio Espírito Santo (cf. Jo 14,26; 16,13s), é o principal ponto fraco ou o calcanhar de Aquiles do Protestantismo. Disto se segue a divisão do mesmo em centenas de denominações diversas, cada qual com suas doutrinas e práticas, às vezes contraditórias ou mesmo hostis entre si.
0 Protestantismo assim se afasta cada vez mais da Bíblia e das raízes do Cristianismo (paradoxo!), levado pelo fervor subjetivo dos seus "profetas", que apresentam um curandeirismo barato (por vezes, caro!) ou um profetismo fantasioso ou ainda um retorno ao Antigo Testamento com menosprezo do Novo.
Esta diluição do Protestantismo e a perda dos valores típicos do Cristianismo estão na lógica do principal fundador, Martinho Lutero, que apregoava o livre exame de Bíblia ou a leitura da Bíblia sob as luzes exclusivas da inspiração subjetiva de cada crente; cada qual tira das Escrituras "o que bem lhe parece ou lhe apraz"!