quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pe. Ruffus - Quem é Jesus para você?

Jesus estava orando, a sós, e os discípulos estavam com ele. Então, perguntou-lhes:

“Quem dizem as multidões que eu sou?” Eles responderam: “Uns dizem que és

João Batista; outros, que és Elias; outros ainda acham que algum dos antigos profetas

ressuscitou”. Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro

respondeu: “O Cristo de Deus”. Mas ele advertiu-os para que não contassem isso

a ninguém. E explicou: “É necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado

pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia

ressuscitar” (Lc 9,18-22). Essa é uma das passagens-chave da Bíblia, que me faz

lembrar a primeira vez que peregrinei para a Terra Santa. O guia conduziu-nos para o norte, além da Galileia. Perguntei para ele: “Mas aqui já termina a Terra Santa, para onde está nos conduzindo?” E ele disse-nos: “Esperem um momento”. Finalmente, levou-nos a um lugar hoje chamado Balias, mas que, naquele tempo, chamava-se Panion, lugar dedicado ao antigo deus grego Pan e que,

na época da Bíblia, era chamado de Cesareia de Filipe – cidade dedicada ao imperador de Roma e construída pelo tetrarca da Galileia, chamado Filipe.

Naquele local, o guia leu para nós essa passagem do Evangelho. Jesus levou os seus apóstolos para aquele lugar, que era muito popular e ficava na montanha, e eles

viam milhares de pessoas adorando aquele deus chamado Pan. Ali estava Jesus com os Doze, quase todos pescadores vindos das aldeias da Galileia, e lhes faz uma pergunta:

“O que as pessoas dizem de mim, quem eles dizem que eu sou?” E os apóstolos disseram: “Jesus, as pessoas têm um apreço muito grande por você. Chamam-no de

grande profeta, alguns até dizem que você é o profeta Elias, outros chegam a dizer que você é João Batista que voltou à vida”. Então, Jesus voltou-se a seus apóstolos e

perguntou: “Quem sou eu para vocês? Vocês têm me ouvido pregar por três anos, têm me visto curar e expulsar demônios, conhecem-me melhor do que qualquer uma

dessas pessoas. Quem vocês dizem que eu sou? Quem sou eu para vocês?” E então, cheio do Espírito, Pedro respondeu:

“Senhor, para nós, você não é outro profeta, nem

alguém desse mundo, mas alguém do Alto. Você não é

outro trabalhador, você é o Salvador, o poderoso Salvador

que veio do Céu – o Filho de Deus”.

Também hoje Jesus nos faz a mesma pergunta: “Quem

sou eu para você? Talvez eu seja só mais uma pessoa a

quem você homenageia, a quem você presta atenção ou,

talvez, eu seja somente mais um dos grandes do mundo

de hoje”. É importante respondermos pessoalmente a

esta pergunta: “Quem é Jesus para mim?”

O primeiro Jesus que conheci foi quando eu era criança.

Para mim, nesta fase, Ele era apenas um retrato, uma

estatueta, talvez o bebê menino na manjedoura, no tempo

de Natal. Agora sei que aquele não é Jesus. Ele não é

uma estatueta ou um retrato que guardamos.



Certa vez, fui à casa de uma família bem espiritual, carismática,

em Bombaim (Índia), e comecei a conversar com

a filha pequena do casal. Apontei para o quadro de Jesus na

parede e disse: “Você sabe que aquele é Jesus?” Ela olhou

para mim com os olhos arregalados e disse: “Aquele não

é Jesus, é um quadro. Jesus é o que está no meu coração”.

Quando tinha a idade dela, pensava que aquele quadro era

Jesus. É bom termos retratos e imagens nas nossas casas para

lembrarmos de Jesus, mas precisamos saber que eles estão lá

apenas para nos fazer lembrar dele; aquilo não é Jesus.

Na época do colegial, li uma linda história da Bíblia.

Na página da esquerda, havia um lindo desenho de um

milagre de Jesus; na página da direita, uma descrição da

história daquele milagre. A partir desse fato, para mim,

Jesus tornou-se um grande curador, aquele que faz grandes

coisas. Mas agora eu sei que esse também não é Jesus.

Ele não é simplesmente um curador, alguém que faz coisas

maravilhosas hoje. Mesmo no seu tempo, quando as

pessoas o seguiam somente pelas curas e milagres, Jesus

fugia delas, escondia-se. Infelizmente, as pessoas ainda

seguem para determinados lugares em virtude somente

das curas. Jesus é muito mais do que simplesmente um

curador, um milagreiro.

Anos mais tarde, ao chegar ao seminário, li um livro

escrito por um ateu, que questionava a existência histórica

de Jesus. Meu sangue de jovem seminarista fervia e, então,

comecei a estudar outras obras para provar a real existência

de Jesus. Agora, sei que ali também não é Jesus. Ele

não é simplesmente uma pessoa que realmente existiu há

muito tempo, mas sim alguém que é muito mais do que o

Jesus histórico.

Logo depois, cheguei à fase da teologia: pude ler a Bíblia

e todas as Escrituras e fiquei fascinado com os lindos

ensinamentos de Jesus. Para mim, Ele transformou-se em

um grande professor, no maior professor do mundo. Contudo,

pude perceber que aquele também não era Jesus.

Ele não é simplesmente um grande professor, como foi,

por exemplo, Mahatma Gandhi, um grande homem do

meu país, a Índia. Jesus é muito mais do que o maior professor

do mundo.

Em outra ocasião, vivi uma experiência a partir da

qual pude perceber que Jesus não era mais uma pessoa

histórica, um professor ou um realizador de milagres. Ele

passou a ser uma pessoa mais viva e real do que qualquer

outra que conhecia. Uma pessoa com quem poderia ter

um relacionamento; alguém que certamente me ouviria

quando eu falasse, da mesma forma que eu o ouviria

quando Ele me dissesse algo. Esse é Jesus.

Jesus é uma pessoa que deseja ardentemente ter um relacionamento

pessoal com cada um de nós. Percebi isso quando reli o primeiro

capítulo do Evangelho de São João. Certo dia, João Batista

conversava com dois de seus discípulos, e Jesus passou ali

perto. João Batista reconheceu aquela pessoa que passava

como o Salvador do Mundo e disse aos seus discípulos:

“Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36). Ainda hoje, Jesus passa

próximo a nós: talvez não o reconheçamos, porque não

estamos atentos para perceber sua passagem ou estejamos

surdos quando alguém nos indica: “Ali está Jesus”.

Aqueles dois discípulos ouviram João Batista e viram

Jesus passar. O que eles fizeram? Imediatamente, deixaram

João Batista e começaram a seguir Jesus. Em um certo

momento, Jesus volta-se para eles e pergunta: “O que vocês

querem?” O Senhor faz essa mesma pergunta a cada

um de nós: “O que você quer? O que você quer da vida?

O que você quer de Deus, o seu Pai? O que você realmente

quer?” Jesus fez àqueles discípulos uma pergunta, e

eles responderam fazendo outra: “Mestre, onde moras?”,

como quem diz: “Não queremos nada de ti, não queremos

uma cura ou um milagre, não precisamos de um ensinamento,

nós queremos a ti, como pessoa. Só queremos estar

contigo, visitar o lugar onde moras”. A resposta de Jesus foram

somente três palavras – muitas vezes suas respostas são

curtas, mas muito importantes: “Vinde e vede”. “Vinde”

significa que você está sendo convidado – Jesus nunca força

ninguém. Todo o Evangelho começa com este convite

de Jesus: “Vinde, vinde e eu vou libertá-lo dos seus fardos,

vinde e eu o farei pescador de homens. Vinde beber das

águas vivas da minha fonte”. Logo no início do Evangelho

de São João, Jesus diz “Vinde. Lá, então, vereis”.

Na Bíblia, o verbo ver não significa simplesmente enxergar

com os olhos, mas também experimentar tudo

aquilo que você sempre quis e ainda não realizou, ter

uma satisfação e uma felicidade jamais sentidas, apresentar

uma paz e força que até então desconhecia.

“Vinde e vede”. E o que aqueles discípulos fizeram? Seguiram

a Jesus. O Evangelho nos conta que passaram o

resto do dia com Jesus. Você sabe como foi esse dia com

Ele? Não fizeram nada mais, nada menos que olhá-lo e

ouvi-lo. Experimentaram Jesus como pessoa.

Depois dessa experiência, os dois discípulos foram

contar aos seus familiares e amigos que haviam encontrado

Jesus. Um dos discípulos era André, que foi até o

seu irmão Pedro e disse-lhe: “Encontramos aquele que

estávamos procurando, encontramos Jesus, o Messias”. E

também Pedro foi, juntamente com André, até Jesus.

Hoje, Ele faz a mesma pergunta: “Quem sou eu para

você?” E quando respondermos corretamente, Ele dirá a

cada um de nós: “Vinde e vede”.

É isso que percebi no grande livro de Jó, aparentemente

monótono num primeiro momento – sempre com



discussões entre ele e seus amigos sobre Deus, que permanece

ouvindo pacientemente. Nos últimos capítulos,

porém, Deus começa a falar a Jó: “Onde estavas, quando

lancei os fundamentos da terra? Informa-me, se tens o

entendimento" (Jó 38,4). Deus, nos três capítulos e meio

seguintes, continua fazendo perguntas e mais perguntas a

Jó, que responde no último capítulo: “Eu te conhecia só

por ouvir dizer, mas, agora, vejo-te com meus próprios

olhos. Por isso, acuso-me a mim mesmo e me arrependo,

no pó e na cinza” (Jó 42,5-6).

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